Coração de Dragão: Vingança

Autor: Filipe Manuel Neto

**Uma senhora “Dragonheart”, em abono da igualdade de género, num filme que volta a ser tão mau quanto os piores da franquia.** Após mais de um punhado de filmes, a franquia “Dragonheart”, que foi carregada ao colo pela produtora Rafaella de Laurentiis, conhece aqui mais um lançamento: espero eu que seja mesmo o último. De facto, apesar da qualidade e magia do primeiro filme, nenhum dos lançamentos que se seguiu conseguiu, sequer, igualar-se ao original. Por isso, a maioria nem passou pela sala de cinema, indo directamente para o DVD e outros suportes semelhantes. Este filme nem sequer faz um esforço. Se o filme precedente foi decente o suficiente para valer a pena uma visita, este filme realmente tem tantas fraquezas no roteiro que não posso mesmo recomendá-lo: os eventos ocorrem ao mesmo tempo que os do primeiro filme, mas parece que estão a decorrer noutro lugar, e relatam a busca por vingança de um jovem a quem mataram a família num acidente de carro… ou melhor, de carroça! Como se o trânsito fosse tanto, naquele tempo, e as viagens tão corriqueiras, que pudesse haver a hipótese de uma coisa destas de facto acontecer! É absurdo, para dizer o mínimo. Obviamente, o jovem fica casualmente a saber que existe um dragão, e vai até ele na esperança de o convencer a resolver os problemas dele. Simples! O dragão, no caso uma fêmea, claro que não aceita, levando o miúdo a fazer uma birra. Entretanto, há uma guerra, temos o simpático povo das aldeias a ser massacrado pela fome graças a bandidos que queimam colheitas, e um rei tirânico que parece, de alguma forma, estar sinistramente no meio disto tudo. Maquiavel de certeza teria orgulho numa figura assim… eu sinceramente já vi vilões melhores. Apesar do trabalho decente de Helena Bonham-Carter na tarefa de dar voz à Senhora Dragão, o resto do elenco parece não merecer um louvor monumental. Arturo Muselli foi competente no papel do rei, e adequadamente sombrio, mas Joseph Milson não é, de todo, um protagonista de capacidade e talento que segure com habilidade o papel que tem em mãos. Ele parece apenas um rapaz inseguro, revoltado, em busca de uma solução fácil para os problemas dele. Novamente, o filme aposta boa parte das suas fichas em CGI decente, e na criação de um dragão falso capaz de nos convencer. Isso foi conseguido, mas quanto a efeitos estamos conversados. A cinematografia é agradável, mas em alguns momentos parece demasiado artificial, como se o filme fosse feito inteiramente em computador. O que realmente fica mal é a dose de maus figurinos e a forma excessivamente fantasista como a Idade Média, num período muito concreto e recuado, foi retractada. Mas isso é um problema endémico de toda a franquia.