Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme excelente, emocionante com uma boa história. Vale a pena ver.**
Este filme resulta da adaptação de uma trilogia literária da autoria de Suzanne Collins. Não os li, não faço particular intenção de o fazer por nenhuma razão em especial, pelo que vou ignorar os livros e focar-me no filme. E o que tenho a dizer é bastante positivo.
O filme traz uma visão distópica da humanidade: Panem é uma nação dividida em distritos, onde as pessoas vivem a trabalhar para sustentar o luxo e poder da elite governante e social, que vive na Capital. Após uma brutal guerra civil, a elite instaurou os Jogos da Fome em memória da carnificina e da lealdade que cada distrito deve à Capital. Nos jogos, que são uma mistura de Big Brother, Campeonato do Mundo da FIFA e “Apocalypse Now”, dois jovens de cada distrito lutam até à morte, ou melhor dizendo, tentam ir mantendo a vida até que todos tenham morrido. Este filme relata a experiência nos jogos de Katniss Everdeen, uma jovem do Distrito 12 que se oferece no lugar da irmã mais nova.
Há muita coisa neste filme que eu penso que não se percebe muito bem. Uma das coisas é o título e o porquê dos Jogos da Fome. Havia fome? Toda a envolvente em redor de quem é Katniss e como era a vida dela no distrito 12 antes da ceifa parecem demasiado gizadas. Isso é um problema mas, se ignorarmos isso, o filme flui, e fá-lo maravilhosamente a partir da ceifa. Uma das coisas que mais me chamou a atenção ao longo de todo o filme é a semelhança brutal de Panem com a Antiga Roma, seja pelos nomes das personagens ou o ambiente e cenários da Capital, seja pela ideia de ter jogos mortais como entretenimento, à laia de gladiadores, seja até pelo uso da águia como símbolo de poder. A semelhança é evidente e propositada.
Jennifer Lawrence revelou-se perfeitamente à altura do desafio e mantém uma boa colaboração com Josh Hutcherson, que nunca chega a ser tão interessante quanto ela, além de ser bastante credível quando contracena com Willow Shields, que deu vida à irmã, Primrose Everdeen. O interesse romântico na personagem de Liam Hemsworth, contudo, é frio como o Inverno. No elenco secundário, destacaria as boas performances de Wes Bentley, Elizabeth Banks, Woody Harrelson, Toby Jones, Lenny Kravitz, Amandla Stenberg e, muito especialmente, um enorme Donald Sutherland, frio e majestático na pele do ditador Snow. A uma primeira vista, Stanley Tucci parece histriónico e irritante, mas se observarmos a personagem dele como uma sátira a mil e um apresentadores de *talk* e *reality shows* por todo o mundo, a personagem dele adquire outra consistência e pertinência.
A acrescentar a um grandioso elenco e uma boa história, o filme tem excelentes valores de produção: uma cinematografia cuidadosa com bom contraste, mas que peca ao abusar do movimento instável das câmaras; excelentes cenários e figurinos e bons efeitos de CGI e de som. A banda sonora também merece uma menção especial pela sua eficácia e beleza. Composta por James Newton Howard, é mais uma daquelas que fica no ouvido muito depois de termos visto o filme.
Cheio de acção e com uma excelente história, este filme pode não ser perfeito mas deixou boas premissas para a sequela que inevitavelmente aconteceu. Vale a pena ver, mas não sei até que ponto as crianças mais novas estão preparadas para ver e, acima de tudo, entender a história contada.
Em 02 May 2020
