Autor: Filipe Manuel Neto
**Um bom filme que consolidou o lugar da Sony como grande estúdio de animação, mas que ainda tem problemas por resolver.**
Este filme é, para mim, um dos melhores que a Sony Pictures Animation fez, colocando-a por fim ao nível da Disney, Pixar ou Dreamworks. Há muito tempo que estes quatro gigantes dos filmes de animação disputam o público. A Sony tem sido, até agora, o concorrente mais discreto e menos bem-sucedido nesta competição. Todavia, com este filme e a franquia que se seguiu, o estúdio conseguiu finalmente mostrar o seu valor.
O roteiro é simples: após perder a esposa num enfrentamento com humanos violentos, o secular Conde Drácula esconde-se, com a sua filha Mavis, num castelo isolado e protegido do olhar dos humanos. Para o rentabilizar, transforma-o num grande hotel especialmente pensado para acolher outros monstros e criaturas que queiram distância das pessoas normais. Só que os séculos passam, Mavis cresceu e quer ver, finalmente, o mundo para lá da imensa floresta negra que rodeia o castelo. E isso é o que Drácula mais receia, pois encara os seres humanos como altamente perigosos.
O filme foi perfeitamente capaz de humanizar e dar um toque engraçado aos monstros que nos habituamos a ver nos filmes de terror. Drácula, a Múmia, o Lobisomem, Quasímodo, o Homem Invisível, o monstro de Frankenstein, o Pé Grande… estão todos aqui, e todos muito mais humanos e adoráveis do que poderiam ser noutro tipo de filme. A trama assenta muito na relação pai e filha, na forma como um pai tenta proteger a sua filha até eventualmente ela se sentir sufocada e se revoltar contra isso. As cenas mais cómicas estão reservadas para o conde, especialmente quando contracena com Jonathan, o adolescente humano que, contra todas as probabilidades, encontra o castelo e se decide a explorá-lo. Os diálogos são excelentes e o humor está um pouco por toda a parte.
A direcção é assegurada por Genndy Tartakovsky, que dantes colaborava com o canal Cartoon Network, onde foi o responsável por alguns dos programas animados mais icónicos do canal. É, portanto, uma aposta interessante que deu certo. O elenco de actores de voz é grande e muito bom, com o veterano Adam Sandler e Selena Gomez à cabeça. Todos fizeram o seu trabalho muito bem e encaixam perfeitamente nas personagens. Achei especialmente interessante o esforço de Sandler para a sua voz soar mais romena, se bem que talvez não fosse necessário.
Tecnicamente, o filme assenta em animação computorizada e CGI, cuja qualidade me pareceu algo irregular mas geralmente boa. Ao contrário dos filmes dos outros estúdios, a música e as canções estão longe de ser o ponto forte do filme… sendo na realidade um dos mais fracos, na medida em que são canções bastante esquecíveis e parecem estar ali apenas porque têm de estar, e não para acrescentar qualidade e alegria ao filme. O final do filme, onde a música tem um papel predominante, acaba assim um pouco esbatido e perde interesse. O estúdio deveria ter apostado mais na selecção ou composição de boas canções, se realmente queria optar por este caminho.
Em 24 Jun 2020