Autor: Filipe Manuel Neto
**Não tenho nada contra remakes… mas pelo menos tentem fazê-los bem feitos!**
Já vi o filme _O Nevoeiro_, de John Carpenter, há alguns anos, mas lembro-me bem dele e de como foi agradável vê-lo. O filme original não derramou uma gota de sangue falso, não era o tipo de filme extremamente visual a que nos habituamos nos últimos anos, com jorros de sangue para todo o lado e pedaços de carne a voarem na nossa direcção. Carpenter fez um filme limpo, sem sobressaltos de nos fazerem cair da cadeira, mas tenso, bastante tenso e carregado de mistério. E em última análise, era realmente isso que fazia o filme funcionar tão bem… e é isso que falta neste filme, precisamente!
O remake mantém, na essência, o roteiro do seu antecessor: Antonio Bay é uma cidade costeira americana que está prestes a comemorar o centenário da sua fundação quando começam a ser observadas ocorrências misteriosas e mortes macabras, sempre relacionadas a um nevoeiro de aparência estranha, bastante denso e algo esverdeado. Porém, a descoberta de um velho diário, escrito por um dos fundadores da cidade, traz finalmente alguns esclarecimentos: afinal, toda a cidade foi fundada às custas de dezenas de vidas humanas inocentemente mortas, sendo que agora, cem anos passados, são as suas almas que regressam do mar, desejosas de vingança.
Confesso que esperava mais qualquer coisa deste filme. A verdade é que, se eu não soubesse bem o que acontece neste filme (graças ao filme de Carpenter) eu não sei se iria compreender o que se passa aqui. Terrivelmente mal escrito, o roteiro não consegue transmitir-nos bem toda a história, e os novos públicos correm o risco de não entender tudo. É uma história confusa, com falhas e partes omissas. Por outro lado, o filme não tem qualquer espécie de tensão, de ‘suspense’ ou de mistério funcional. Tem algumas coisas boas, procura envolver mais personagens, tirar o foco daquela radialista isolada no farol, mas a verdade é que não sei se isso foi realmente uma boa ideia, posto que o filme ficou muito menos claro e compreensível do que o seu predecessor e nenhuma das personagens consegue envolver-nos, ou captar a nossa simpatia e interesse.
Dirigido por Rupert Wainwright, foi o último filme longa-metragem da carreira dele, e apesar de John Carpenter ter emprestado o nome ao filme, disse publicamente que não se envolveu neste projecto. O elenco conta com vários nomes e actores, mas nenhum nome particularmente mais sonante, sendo que nenhum dos actores conseguiu brilhar ou realmente dar-nos um trabalho digno de ser apreciado de forma integralmente positiva.
A nível técnico, o filme conta com uma cinematografia bastante regular e aproveita bem todos os locais de filmagem utilizados. Os efeitos visuais e CGI funcionam bastante bem, e a névoa é verdadeiramente impressionante e até bonita. Porém, as qualidades redentoras do filme ficam por aqui. Gostaria, como historiador, de destacar em especial o meu repúdio e repugnância pela forma como recriaram as cenas do barco, onde vemos Blake e os seus companheiros de viagem. Sendo o acontecimento ambientado em finais do século XIX, é inconcebível e inaceitável que a produção tenha decidido utilizar roupagens, adereços e até um estilo de navio de fins do século XVIII, isto é, de um período cem anos anterior ao que se quer retractar. Isto é brincar com a história, e um sinal de absoluto desleixo por parte dos produtores e da equipa técnica.
Em 04 Mar 2018