Autor: Filipe Manuel Neto
**É um filme de referência, apesar de não ser propriamente a minha preferência.**
Bem, eu tenho de reconhecer, em primeiro lugar, o impacto e a popularidade deste filme, não só na época em que saiu, mas até hoje. Foi um dos grandes sucessos da época (com excepção do Reino Unido, abalado pela morte de Diana Spencer, e onde o filme só depois, no suporte físico, ganhou popularidade) e é das comédias mais populares do fim do século XX, tendo sido essencial na consolidação e expansão da carreira de Mike Myers. Não obstante, não creio que seja propriamente a minha preferência no que toca a comédias. E vou explicar a razão.
O roteiro é, basicamente, uma paródia aos filmes de James Bond… Austin Powers é um espião espalhafatoso, vistoso e liberal que chega a ser descrito como o homem que todas as mulheres desejam e os homens querem copiar. Isto é hilariante porque a personagem é feia, "kitsch" e tem os modos de um tarado sexual profundamente misógino. Nada contra, até porque eu não sou fanático pelo politicamente correcto. O que me incomoda realmente neste filme é a total ausência de piadas engraçadas e a ênfase no tema sexo. Quase todas as piadas têm conotação sexual, e isso não só se revelou ineficaz como cansativo.
O roteiro é simples: nos anos Sessenta, Powers fracassa na sua tentativa de neutralizar o seu maior inimigo, Dr. Evil, quando ele foge e se congela a si mesmo numa cápsula criogénica. Para não fica atrás, o espião oferece-se para passar pelo mesmo, ficando congelado até ao dia em que o seu inimigo voltasse, o que acontece nos finais dos anos 90. A partir daqui, gera-se todo um sub-enredo em que ambas as personagens, à sua maneira, terão de se adaptar aos novos tempos enquanto se preparam para o enfrentamento final.
Myers é a força motriz de todo o filme, assumindo a pele duas das personagens importantes: o herói e o vilão. Isso não é algo novo em cinema e foi já levado a cabo por Peter Sellers e Alec Guinness, duas referências que Myers teve em linha de conta neste seu trabalho. E mesmo sem ter gostado muito do filme, não seria correcto da minha parte se eu me furtasse a fazer um rasgado elogio a este actor, e à sua capacidade e empenho. Elizabeth Hurley deu vida a uma espiã, filha de uma antiga colega do protagonista, sendo a “Powers-Girl” neste filme. Ela é boa o bastante para a tarefa e faz um trabalho agradável.
Tecnicamente, o filme cumpre com aquilo que precisa. Uma cinematografia regular com boas cores e nitidez, um ritmo muito agradável e sem momentos mortos. Gostei dos adereços e dos cenários, muito especialmente do automóvel de Powers (um Jaguar clássico). O figurino dele, claramente inspirado em vestimentas do século XVIII, também me pareceu criativo e original, muito embora eu tenha alguma dificuldade em encontrar algum embasamento credível para essa opção nas modas e estéticas dos anos 60. A desfear o conjunto, apenas a edição, que me pareceu um pouco desajeitada. Por fim, uma nota de louvor para a banda sonora muito boa e, em particular, para a animada sequência de dança que acompanha os créditos iniciais.
Em 29 Jul 2022