Autor: Filipe Manuel Neto
**Sem dúvida um bom filme, onde as coisas funcionam muito bem de modo muito simples.**
Quando falamos em filmes de temática natalícia, a escolha é tão grande que o difícil tem sido mostrar coisas substancialmente diferentes ou originais. O que este filme faz, é pura e simplesmente contar-nos uma boa história… e funciona assim! Não é um filme que nos encante, e eu, pessoalmente, dificilmente me vejo a revê-lo novamente. Mas o facto é que consegue ser muito melhor do que muitas porcarias que aparecem pelo Natal.
O roteiro é simples e tão directo que se pode resumir a uma frase: é a descrição do Natal de uma criança e da forma como ela, por vários expedientes, tenta conseguir o presente que mais deseja receber, e que os pais parecem pouco inclinados a dar-lhe: uma arma de pressão de ar. E isto leva-me a falar do primeiro ponto que me causou grande estranheza neste filme: o facto de se oferecer uma arma a uma criança.
Eu não sou dos EUA, sou português, e quando era criança tive espingardas e pistolas de brincar, mas não disparavam, eram de plástico. Uma espingarda de pressão de ar, no meu entendimento das coisas, ainda é uma arma. Por isso, fiquei abismado com a ideia de ver uma arma de pressão de ar à venda como um brinquedo, junto a outros brinquedos. Porém, é bastante sabido que nós, na Europa, não temos com as armas a relação quase afectiva que têm os norte-americanos, e as leis que as regulam aqui são muito mais duras que as leis dos EUA. Portanto, eu sei que esta minha estranheza se deve às diferenças culturais, mas mesmo assim senti isso com grande intensidade neste filme.
Afora isto, eu sinceramente não tenho grandes críticas a apontar: os diálogos são bons e as situações criadas são bastante críveis, mesmo as que parecem mais rocambolescas (é o caso dos cães que comem o peru). Há muitos momentos bonitos que nos comovem, seja pela relação de carinho daquela família, seja pela evocação das melhores recordações da infância de cada um: ao ver o filme, nós recordamos o nosso próprio passado com uma lágrima nos olhos, as pessoas que já não vivem perto de nós ou que já nem estão presentes neste mundo. Senti-me velho ao ver este filme, pensei muito no muito que experienciei, na velocidade em que a vida dá voltas e nos sonhos que tinha com a idade daquele menino (muitos deles cumpri e muitos ficaram para trás)… Mas não estou aqui para falar de mim!
O filme parece simples, parece até barato de fazer, se considerarmos a simplicidade dos efeitos, a eficácia e modéstia dos cenários, a forma muito despretensiosa como tudo nos é apresentado, dos figurinos à própria cinematografia, que nada tem de especial, mas que funciona de modo eficiente. Destacaria, muito especialmente, a forma primorosa com que a produção conseguiu recriar o ambiente familiar vivido nos fins da década de 40, logo no rescaldo da Segunda Guerra Mundial. Também o elenco não tem nomes sonantes, pelo menos para mim: o jovem Peter Billingsley faz um excelente trabalho e é elegantemente coadjuvado por Darren McGavin e Melinda Dilon. Arrisco-me a dizer que este foi o melhor de cada um destes actores.
Em 22 Jan 2024