Autor: Filipe Manuel Neto
**Um thriller paranóico regular que não é particularmente notável.**
Este filme é um daqueles filmes estranhos e difíceis de avaliar, na medida em que parecer ir em tantas direcções que não vai a lugar nenhum. De qualquer modo, e apesar de um início fraco e pouco intrigante, revelou ir melhorando e cativando a minha atenção com o tempo.
O filme baseia-se na figura de Jerry Fletcher, um taxista obcecado por conspirações do governo que gere uma insignificante publicação periódica por assinatura onde divulga as suas ideias e tem uma paixão obsessiva por Alice Sutton, funcionária governamental que ele visita amiúde. Num dia, ele é apanhado e torturado, o que indica que alguém levou a sério alguma das ideias dele, mas apenas Alice percebe que algo realmente pode ter acontecido com aquele homem, o que a leva a tentar ajudá-lo.
O filme é, em última análise, mediano. Começa devagar, de modo desinteressante e demora o seu tempo a desenvolver-se, mas isso era necessário para se compreender o que viria depois. Para mim, as coisas só começaram a ficar interessantes quando a personagem principal foi apanhada e torturada. Com cerca de duas horas e quinze minutos, é um filme excessivamente longo para o conteúdo que apresenta e tem tantas reviravoltas que pode deixar o público confuso e fazê-lo perder o interesse no que está a ver. Uma outra coisa que me chamou a atenção foi a semelhança com o filme *Dossier Pelicano*, não apenas pela participação da mesma actriz principal mas, também, pela semelhança da história contada.
O elenco é dominado por dois nomes centrais: Mel Gibson e Julia Roberts. Ambos colaboram bem juntos, embora eu tenha ficado com a sensação de que havia pouca química para um par romântico. Gibson parecia mais um maníaco obcecado do que um homem apaixonado. De facto, Gibson não parece saber até onde vai a sanidade da sua personagem e a actuação dele acaba por reflectir isso, com muitos exageros e falta de profundidade psicológica. Roberts é boa o suficiente numa personagem muito subdesenvolvida psicologicamente. Sendo este um thriller de cariz obsessivo e paranóico, teria sido interessante ver estas duas personagens com mais riqueza psicológica e menos aparência, mas isso são erros do argumentista e não tanto dos actores em causa. Por fim, uma palavra para Patrick Stewart, numa actuação discreta mas que me pareceu eficaz.
Não é um filme que sobressaia pelos requisitos técnicos ou valores de produção, tendo uma cinematografia regular. Alguns cenários, como a casa de Fletcher, foram muito bem concebidos e os efeitos especiais são bons.
Em 04 Jul 2020