Autor: Filipe Manuel Neto
**Isto deve ser uma piada, certo?**
Em primeiro lugar, permitam-me um esclarecimento: não sou fã de filmes de “mortos-vivos”, muito embora entenda e aceite muito bem o interesse que, em anos recentes, tem havido por material deste tipo. Eu respeito totalmente aqueles que gostam disso. Mas vamos ser sinceros: um filme tem de ter alguma qualidade estética e algum bom gosto para se tornar “digerível”. E, bem, eu acabei agora mesmo de ver este filme, e sinceramente não consigo compreender como tem sobrevivido sem acabar no baú do esquecimento. Há filmes incrivelmente melhores que têm sido esquecidos à medida que os anos decorrem, mas certo tipo de porcarias, pura e simplesmente por serem más, permanecem vivas.
A trama baseia-se, essencialmente, num momento de caos em que os EUA (pelo menos, o resto do mundo pura e simplesmente não existe) estão tomados por mortos-vivos e ninguém sabe o que fazer ou para onde ir. Cada um pensa em si, salva a sua pele e os outros que se danem. Pelo meio, os oportunistas do costume vão aproveitando a situação conforme lhes parece melhor e um grupinho de “heróis sobreviventes” procura onde se abrigar. É a trama deste filme e de uma dúzia de outros filmes de desastres (mortos-vivos, vulcões, guerras, terramotos, invasões alienígenas e outros). O nível de originalidade está abaixo de zero e as situações são, todas elas, previsíveis e altamente cliché. Nós sabemos quem vai morrer e quem se vai salvar por um fio de cabelo, e o facto de o filme começar sem nenhum tipo de introdução é simplesmente confuso e um pouco idiota.
Dirigido por George A. Romero, um homem que deve ter sofrido de algum fétiche sexual bizarro com mortos e mortos-vivos (vejam a filmografia dele!), o filme é absolutamente trash e poderia competir em má qualidade e mau gosto com todos os filmes de Ed Wood e com o rigor histórico dos filmes de época de Ridley Scott. Eu perdi a conta aos problemas de roteiro, erros de continuidade e falhas grosseiras de edição. A cinematografia é feia, há um exagero gritante dos cenários e as maquilhagens dos mortos-vivos são tão evidentemente falsas que se parecem com o que nós fazíamos aos quinze anos em peças escolares. E do elenco é melhor nem falarmos: tenho dúvidas se aquelas pessoas eram actores.
Em 14 Mar 2024