Autor: Filipe Manuel Neto
**Muito mais do que um filme erótico, tem uma história interessante e uma excelente actuação de Drew Barrymore.**
Não sou muito fã de filmes com forte carga erótica, mas decidi ver este filme porque me parecia ter uma boa história a dar-lhe corpo e não apenas cenas de sexo e nudez gratuita. Julgo que não me enganei muito: não é uma obra de arte, mas entretém bastante bem e dá-nos aquilo que promete.
A história é bastante simples, ainda que a sua credibilidade e verosimilhança dependam muito do nível de tolerância de cada um para histórias profundamente inacreditáveis. Tudo começa com a estranha fascinação – quase uma paixão lésbica – da jovem Sylvie por uma menina que vê na sua escola: a segura e atraente loira sem nome que se deixa tratar por Ivy, mas de quem nunca sabemos o nome real. Sylvie é uma jovem depressiva e com sérios problemas psicológicos e de integração social, que quer ser como Ivy sem ser capaz e que sente que viveu toda a vida à sombra da própria mãe, a bela e rica Georgie Cooper, que agora está doente (ainda que pareça mais uma hipocondríaca crónica do que uma pessoa mesmo doente). Sylvie também mantém uma relação tensa com o pai, Darryl Cooper, pivô de TV com uma mentalidade profundamente conservadora na qual a filha não se revê. À medida que a amizade entre Sylvie e Ivy se transforma numa relação de absoluto domínio da personalidade mais forte sobre a mais frágil, Ivy introduz-se em casa da amiga rica e aproveita para viver às custas dela e ter tudo o que sempre quis… o que inclui ir para a cama com Darryl e tomar o lugar de Georgie na vida de todos.
Infelizmente, o mundo está cheio de mulheres atraentes que usam os seus atributos para conseguir o que querem, principalmente se o alvo é um homem mais velho e rico. Este filme leva isso um passo adiante, ao nível da loucura, da sociopatia e do crime bem orquestrado. A história, como eu referi, é profundamente inacreditável, mas funciona muito bem e dá o mote para várias cenas onde a sensualidade é o ponto forte, num filme cheio de estilo e bastante sólido apesar do orçamento reduzido.
O elenco é liderado por Drew Barrymore… a menina loirinha dos anos Oitenta cresceu e tem agora um corpo bem torneado que vai mostrar quase por completo neste filme, em cenas que deixam facilmente o público masculino de olhos em bico. Mas desengane-se quem pensar que Barrymore apenas tirou a roupa: ela brindou-nos com uma actuação bastante sólida e soube dar à personagem dela uma malvadez e perversidade profundas, com toques de loucura e delírio narcisista. Sarah Gilbert deu vida à inadaptada Sylvie e foi feliz no seu trabalho e na forma como narrou a história. Também gostei de Tom Skerritt e da forma como ele parece, gradualmente, perder a cabeça pela loira. O pior foi mesmo o desempenho fraco de Cheryl Ladd.
Tecnicamente é um filme mediano e que não se destaca particularmente. Por vezes parece até feito para a TV, com a sua cinematografia morna e preguiçosa e os seus efeitos medíocres ou ausentes. Os cenários e figurinos são o que poderíamos esperar. Para mim, o mais notável aspecto técnico foi a óptima banda sonora original, composta por David Michael Frank, com uma melodia para saxofone e orquestra que alterna entre o ‘sexy’ e o sinistro.
Em 20 Sep 2020