Autor: Filipe Manuel Neto
**Um dos melhores filmes de adolescentes de sempre.**
Filmes de adolescentes podem realmente ser uma praga terrível. Eu já tive outras ocasiões em que não os poupei a críticas, e geralmente é um estilo de cinema que me desagrada muito pela sua enorme estupidez. No entanto, esta comédia sobre um grupo de meninas ricas e mimadas é um exemplo positivo, um filme para adolescentes que consegue ter qualidade e graça, sendo uma sátira, bastante crítica, ao materialismo e consumismo dos adolescentes da elite.
Amy Heckerling teve uma ideia genial ao fazer uma adaptação para os nossos dias do romance “Ema”, de Jane Austen. Todo e qualquer material da escritora é garantidamente bom, e se for bem aproveitado e bem utilizado, geralmente, dá bons resultados. E de facto, o essencial desse livro está aqui: uma menina mimada e superficial que aprende mais sobre a vida, encontra um amor verdadeiro e a mais genuína bondade e altruísmo. É esta a transformação que vemos em Cher, a loira e exuberante heroína deste filme. Ela vive com o pai, um advogado que parece não dar muita atenção à filha, mas que, na verdade, tem um jeito próprio de o fazer. E é na escola, e no complicado universo dos adolescentes obcecados por popularidade, que Cher se move pela maior parte do filme. Rica e bonita, ela não tem qualquer problema em assumir-se como líder, como topo daquela mini-sociedade fortemente elitista e preconceituosa que é o universo dos adolescentes. E ela não hesita em usar isso para tentar melhorar as coisas à sua volta.
Este é o grande filme da vida de Alicia Silverstone. A actriz ainda fez alguns trabalhos depois, e é conhecida e respeitada, mas a verdade é que a carreira dela não voltou a ter êxitos tão fortes e relevantes. Ela encarnou Cher de uma maneira tão sincera e autêntica que se tornou difícil, a partir daí, descolar a personagem da actriz. Brittany Murphy também merece um aplauso. Era incrivelmente jovem, mas deu sinais de talento e permaneceu activa como actriz até ao final da sua (infelizmente) breve vida. Stacey Dash faz o que pode, mas não tem tempo nem material para brilhar como as colegas. O filme conta, ainda, com boas actuações de Dan Hedaya e de Paul Rudd.
O filme não tem visuais incríveis ou grandes efeitos, nem é suposto. De facto, um dos segredos para o seu sucesso (comercial, claro) foi o facto de ter tido um orçamento mediano e um êxito notável nas bilheteiras. Sem um cartão de crédito ilimitado, a produção desdobrou-se para dar ao filme um aspecto mais caro do que é, e acredito que boa parte do investimento esteve nos figurinos elegantes e aparentemente caros das três personagens principais, além da casa onde Cher vive, uma magnífica mansão californiana.
Em 29 May 2023