Autor: Filipe Manuel Neto
**Um blockbuster sólido e épico que, ainda hoje, nos consegue impressionar.**
Este filme passa-se no período áureo do Império Romano, no final do reinado de Marco Aurélio e os primeiros anos do imperador Cómodo. Maximus é um brilhante general romano, o favorito do velho imperador, que deseja restaurar a República Romana e vê no seu sucessor um projecto de tirano sanguinário. Porém, Cómodo consegue matar o seu pai e suceder-lhe antes de este levar adiante os seus planos, tornando-se senhor absoluto de Roma e manda matar Maximus e toda a sua família. Preso e vendido como escravo, torna-se gladiador e, graças ao seu treino e experiência militar, depressa se torna num dos melhores. Finalmente, volta a Roma desejoso de se vingar do imperador tirânico que lhe roubou a vida e a família.
Ok, este filme me lembra imenso Ben Hur com toda esta história de vingança e injustiça ambientada no mundo romano, mas vamos falar primeiro do que tem de bom... dirigido por Ridley Scott, tem um ritmo bom, não tem momentos mortos, e o director fez um trabalho bastante satisfatório. O roteiro tem uma história emotiva, com um desenvolvimento coerente e que nos dá personagens fortes e bem desenvolvidas. Russel Crowe fez um bom trabalho e brilha no papel principal, num dos filmes que moldou a sua carreira. Joaquin Phoenix também teve, aqui, um dos filmes mais notáveis da sua carreira, dando ao seu vilão um toquei de "menino rico e mimado profundamente narcisista". Richard Harris foi uma boa aparição, naquele que viria a ser um dos seus derradeiros trabalhos de cinema. Mas quem verdadeiramente se despede da sétima arte é Oliver Reed, dando vida a Proximo, o chefe da escola de gladiadores. O prestigiado actor faleceu ainda durante o período de filmagens. No elenco de apoio, Djimon Hounsou e Connie Nielsen fazem um bom trabalho.
Todavia, o filme não está livre de falhas. O filme aproveita os nomes de dois imperadores romanos que, realmente existiram, e que sucederam um após o outro. Isso acabou sendo um problema... de facto a vida desses dois imperadores não tem nada a ver com o que este filme mostra, e o aproveitamento dos nomes e contextos levanta questões sérias ao nível da verosimilhança e do rigor histórico. Há, também, alguns problemas de falta de lógica e credibilidade. No tocante ao trabalho dos actores, eu destaco pela negativa os péssimos diálogos deste filme, com passagens absolutamente cliché e excessiva teatralidade.
A nível técnico, o filme usa e abusa do CGI, o estado da arte na época, para nos brindar com cenários de cortar a respiração e que resgatam para o nosso tempo a glória e monumentalidade exageradas da Roma Antiga. Seria difícil fazer melhor do que isto. A banda sonora, profundamente épica, acentua esta monumentalidade e tornou-se uma das mais bem vendidas e famosas bandas sonoras do cinema contemporãneo, com toda a justiça. Os efeitos especiais e de som destacaram bastante bem a brutalidade dos combates, ao passo que os cenários e figurinos correspondem bem ao que poderíamos estar à espera num filme épico passado nesta época.
Sem surpresas, e apesar de todas as falhas, o filme arrecadou cinco Óscares da Academia (Melhor Filme, Melhor Actor, Melhor Figurino, Melhor Som e Melhores Efeitos Visuais) na cerimónia de 2001.
Em 01 Dec 2019