Autor: Filipe Manuel Neto
**Um thriller com sinistros paralelismos com a nossa realidade.**
Este filme fala de uma onda de ataques terroristas em Nova Iorque, provocada por terroristas muçulmanos. A sua estreia foi em 1998 mas quase podia ter sido ontem, tão actual e pertinente que é.
O roteiro mistura política, sigilo militar e terrorismo, temas sinistramente próximos da nossa realidade. Gostei do modo como o filme critica os EUA porque muito do que é dito parece ressoar com o que temos visto nos últimos vinte anos. O terrorismo não é mais uma coisa de alguns países ou regiões: tal como no filme, pode acontecer na nossa cidade e temos que viver com isso. Como observado, a CIA cometeu erros no Oriente Médio que o mundo está a pagar agora. E o comportamento dos militares do filme não nos lembra as realidades de Abu Ghraib e Guantanamo? Tudo neste filme é sinistramente actual.
Outra coisa que gostei: aqui não há heróis. Todos temos os nossos fantasmas, áreas cinzentas e pecados a expiar. A noção de "bons" e "maus" não é válida neste filme. Problemas? A falta de motivo claro para os ataques. Há fanáticos a explodir bombas... porquê? Isso poderia ter sido bem explorado. Os actores fazem um bom trabalho na maior parte do tempo, embora nenhum deles tenha sido excelente. Denzel Washington tem a personagem mais forte e está mais próximo da imagem do herói, mas a personagem é simples demais. Annette Bening tem a psicologicamente mais intensa e complexa, merecendo aplausos pela maneira como expressou a riqueza interior da personagem dela, mas perde brilho pela maneira como o filme acaba. Bruce Willis é o vilão, numa crítica aberta ao autoritarismo militar, mas é uma personagem tão pouco explorada e mal desenvolvida que parece uma caricatura.
O filme foi pensado como um thriller e nós sentimos a tensão crescer, mas o fim é decepcionante e previsível. Permanecem boas críticas políticas, embora relativamente leves, e os sinistros paralelos de actualidade que mencionei.
Em 21 Jul 2018