Autor: Filipe Manuel Neto
**Provavelmente, uma das séries de comédia mais eficazes e queridas de sempre.**
Para pessoas como eu, que cresci nos anos 90, Mr. Bean é seguramente uma das melhores e mais nostálgicas peças de televisão já feitas, além de ser uma das melhores séries feitas na Europa. Custa mesmo pensar que foram apenas e só catorze episódios quando parece, aos nossos olhos, que foram várias dezenas. Sem grandes artifícios visuais, sem cuidados particulares de cenário (o apartamento de Bean nunca é exactamente igual entre episódios e há outras mudanças subtis), com a banda sonora reduzida ao mínimo (a canção usada no começo e no fim, “Ecce homo quis est faba”) sem preocupações com a verosimilhança, todos os episódios fazem o que se propõem: colocam toda a gente às gargalhadas.
Cada episódio tinha cerca de meia hora e podia perfeitamente ser visto por qualquer tipo de pessoa, até no intervalo de almoço de uma pessoa cujo trabalho obrigue a almoçar fora de casa. O protagonista, Bean (nunca saberemos se algum dia ele teve um nome próprio além de “Mr.”), é um homem perfeitamente comum, mas bem mais idiota do que a maioria das pessoas (excepto, talvez, uma parcela assinalável dos funcionários públicos), e os vários episódios mostram bem as tropelias e situações embaraçosas que acontecem na vida dele. E nós rimos… mas quem afinal nunca passou por, pelo menos, uma situação tão bizarra ou embaraçosa que podia ter sido protagonizada por Bean?
O actor que deu corpo e alma à personagem é o inimitável Rowan Atkinson. Ele é, sem dúvida, um bom actor, mas Bean era aquela personagem que fazia sobressair o melhor do actor, aquela personagem que ele concebeu e talhou à medida das suas capacidades e do seu talento, e que não poderá nunca ser interpretada decentemente por mais ninguém. E como acontece quase sempre em casos destes, a personagem colou-se ao actor como se fosse uma segunda pele, e compreende-se que Atkinson tenha preferido reformá-la, muito embora a sua popularidade pareça impedir uma reforma absoluta: Bean ainda aparece, de modo muito pontual, seja para um anúncio comercial, seja para uma participação especial, como aconteceu na cerimónia de abertura das Olimpíadas de Londres. Afinal, juntamente com a saudosa Isabel II e as várias caras que já foram James Bond, Bean é seguramente o britânico mais reconhecível e amado do mundo.
Em 05 Mar 2024