Autor: Filipe Manuel Neto
**Apesar da boa performance de Bullock e King, o filme é francamente previsível e nunca se torna realmente interessante.**
Gostei de _Miss Detective_, apesar da várias questões e pontos problemáticos de que falei na minha resenha a esse filme, e esperava que, pelo menos, esta sequela (que está longe de ser a segunda parte de um filme maior, como Sandra Bullock chegou a dizer encarar tudo isto) fosse capaz de ombrear com o filme original. Vamos ser justos, tinha tudo para conseguir isso: além de manter a protagonista e ter um roteiro que se ligava directamente ao seu predecessor, o filme manteve parte da equipa técnica e do elenco originais. Bem, eu lamento, mas sinto que essas expectativas acabaram defraudadas: o filme não é mau, mas está abaixo do que eu esperava encontrar.
O problema começa com o roteiro: é uma história muito sub-desenvolvida e básica, apesar de partir de uma premissa inicial promissora. Marc Lawrence, que já trabalhou no filme anterior, simplesmente não conseguiu fazer nada melhor. Se o filme anterior se pautava pelo exagero da história, este filme revelou-se previsível e tem ideias que simplesmente não funcionam, como, por exemplo, ver duas agentes federais, destacadas para fora da sua área de origem, e que se dão ao luxo de desobedecerem descaradamente a ordens superiores sem que isso lhes valha uma suspensão imediata de serviço e a entrega da arma e distintivo. O que o filme faz é, quase, fazer pouco do FBI (bem, às vezes eles merecem). Outro problema é o melodrama que a protagonista vive após o término do seu romance, iniciado no filme anterior. Isto é irritante o suficiente para nos impedir de simpatizar mais com a personagem, salva "in extremis" pela bagagem de simpatia previamente adquirida.
Sandra Bullock é, para falar francamente, o melhor activo presente neste filme. Ela não só foi a produtora como também a protagonista do filme e, de novo, brinda-nos com um trabalho bem executado, cheio de empenho, charme e carisma. Regina King também se sai bastante bem, na pele de uma agente federal durona e com problemas de controlo de raiva. A colaboração entre ambas as actrizes é excelente, e as cenas que ambas protagonizam são das melhores do filme, em particular quando elas não se entendem. Heather Burns e William Shatner também voltam para este filme, nos seus papéis respectivos, mas a verdade é que eles têm pouco a fazer e não se destacam particularmente, a não ser pelo demérito de outros actores. Treat Williams tenta, mas não consegue fazer muito mais do que faz, Diedrich Bader é muito irritante no papel de um homossexual descarado com aspirações ao travestismo e os dois vilões nunca são dignos de credibilidade nem exalam qualquer sensação de ameaça real.
A nível técnico, o filme fica-se pela mediania, e isso pode avaliar-se pela cinematografia, edição e escolha de cenários ou de efeitos visuais e sonoros. Não é um filme onde a produção tenha investido muito nas questões de ordem técnica. A banda sonora também deixa muito a desejar e não traz qualquer tema ou canção que fique no ouvido. O ritmo do filme é mais lento do que seria desejável, mas pergunto-me se o enredo, tão confuso e desordenado, permitiria talvez a adopção de um ritmo mais rápido sem uma importante perda da inteligibilidade da história. O humor é por vezes bastante inteligente, mas quase não sai das convencionais piadas familiares de sitcom, dos jogos de palavras e do humor físico (nada contra, é um humor mais adequado a um filme familiar, e eu reconheço isso). Os figurinos contam com algumas ideias interessantes, mas não vão além do que se esperava encontrar.
Em 30 Jul 2022