Autor: Filipe Manuel Neto
**Um espectáculo visual onde a trama e o desenvolvimento das personagens também têm o seu destaque.**
Em geral, eu tenho algumas reservas quanto a filmes com origem em banda desenhada. Já vi vários em que a narrativa fica muito aquém do esperado, e o filme acaba por ser um monte de efeitos e CGI. Este filme continua a ser um espectáculo visual impressionante, mas a narrativa é muito mais equilibrada e bem articulada do que eu esperava.
Não sendo eu um perito em mitologia nórdica, nem tampouco nas bandas desenhadas que a Marvel dedicou às personagens e que serviram de base ao filme, aceito a trama como é. Ela tem valor pela forma como foi estruturada e como se apresenta. As personagens são bem desenvolvidas e têm uma psicologia interessante, muito particularmente Loki, que é um indivíduo inteligente, calculista, mas também iracundo. Considerando o final, acredito que a realização de sequelas e continuações já estava pré-planeada, tal como a Marvel já tem feito. Os diálogos, por vezes, soam de modo estranho, mas acho que houve a tentativa de os arcaizar no primeiro momento do filme, integralmente passado no mundo de Thor.
Fiquei muito admirado por ver Kenneth Branagh ocupar a cadeira do director, e afirmar que o fez por ser um fã de longa data do material original da Marvel. Por um lado, creio que o director também procurou, desta maneira, dar-nos mais uma prova de versatilidade e de superação, mas, por outro lado, não tenho dúvidas que a melhor opção da produção foi chamar alguém que já conhecia o material e que saberia como o deveria respeitar. E voltei a ficar surpreendido ao ver Sir Anthony Hopkins entre o elenco! Eu dificilmente ia conceber que este actor iria aceitar um trabalho destes, com tanto visual e tão pouco para interpretar seriamente. Claro, o actor fez um trabalho sem qualquer dificuldade. Quanto a Chris Hemsworth e Tom Hiddleston, eles provavelmente fizeram aqui os trabalhos de maior peso nas suas respectivas carreiras artísticas para as próximas duas décadas. Ambos são excelentes, e equilibram bem o carisma e a capacidade para interpretar, oferecendo-nos duas lideranças igualmente sólidas. Idris Elba é adequadamente imponente, mas não tem muito mais para fazer; Colm Feore fez um trabalho superficial e de menor interesse; Stellan Skarsgård tem pouco para dar devido à sua personagem rasa e incaracterística; Por fim, Natalie Portman limita-se a ser o interesse amoroso do momento. Aqui, tudo nos padrões que a Marvel nos habituou.
Acho que não vale realmente a pena destacar a extraordinária qualidade do CGI e de todo o trabalho visual: dos cenários aos figurinos, passando pelos adereços, maquilhagem, luz e trabalho de edição, a produção fez uma aposta muito pesada na criação de visuais muito elaborados e que apelam à nossa imaginação. Eles queriam mesmo que o filme desse azo a mais uma franquia dentro do universo Marvel. O som e a banda sonora mereceram igual tratamento, com a composição de uma extraordinária banda sonora original, que tem um cunho épico bastante vincado. Infelizmente, tal como aconteceu noutros filmes que a Marvel nos apresentou, há muita inserção de publicidade a patrocinadores diversos, o que se torna cansativo a partir de certos limites, mas isso acaba sendo um mal menor se nós considerarmos que agora não existe um único “blockbuster” que não faça o mesmo.
Em 18 Dec 2024