Autor: Pedro Quintão
Não acho "X" (2022) uma obra-prima, na realidade, é um filme de terror dentro da média, que entretém enquanto se mantém pouco memorável. Já "Pearl" (2022) foi um delírio técnico e visual, Mia Goth entregou uma performance incrível, adorei, mas não o pretendo voltar a rever. Por sua vez, aguardava "Maxxxine" (2024) para saber o rumo que Ti West tomaria a seguir. Posso dizer que apesar das críticas medianas/negativas nos EUA, este 3º capítulo da trilogia surpreendeu-me, mas não o achei fantástico.
Ao longo dos primeiros 20 minutos, o filme impressiona devido a toda a atmosfera da década de 80, à edição, cinematografia, às interpretações, maquilhagem e uma infinidade de outros aspetos positivos que me faziam constantemente pensar "este será um dos melhores filmes do ano".
No entanto, à medida que a trama principal se desenrola, a força inicial começa a desvanecer-se. "Maxxxine" parece perder-se em tramas e subtramas que não são devidamente desenvolvidas. A multiplicidade de personagens que surgem no decorrer do filme acaba por enfraquecer o impacto de cada uma. À exceção da protagonista, as restantes figuras são meramente superficiais, servindo apenas para interações superficiais antes de encontrarem o seu destino trágico nas mãos de um assassino cujo mistério é praticamente inexistente. Aliás, acho que o filme nunca desejou ter a atmosfera "whodunit" que coloca o espectador a tentar adivinhar quem é o assassino, mas sim envergar por um rumor mais "giallo". Sem dúvida que este capitulo ganharia muito se fosse mais contido na sua ambição e se dedicasse mais a desenvolver as personagens e a conservar o ritmo e a atmosfera inicial dos primeiros 20 minutos.
Mia Goth, no papel de Maxine, entrega uma performance brutal. A sua personagem, ainda marcada pelos traumas do massacre vivido no primeiro filme, tenta entrar no mundo de Hollywood. Contudo, o facto desta personagem ser interpretada por uma grande atriz, não significa que automaticamente seja uma personagem interessante e querida para o espectador. Na verdade, posso dizer que odeio Maxine e a sua personalidade terrível, ela é egoísta, sem empatia e calculista. Num certo momento do filme, após os assassinatos ocorrerem, a polícia pede a sua colaboração para impedir que outras mulheres sejam assassinadas, a protagonista recusa e demonstra que o problema é das vítimas, e que são elas que têm de lutar sozinhas pelas próprias vidas. Não há como gostar dela, contudo, acho interessante estarmos perante uma final girl que foge a maioria das caraterísticas "boazinhas" de outras vítimas de filmes de terror.
O filme tem os seus méritos, não negá-los. A metalinguagem sobre Hollywood e a homenagem aos anos 80 são aspectos notáveis que enriquecem a narrativa. No entanto, "Maxxxine" parece ter sido vítima da sua própria ambição. Se tivesse sido mais contido, focando-se no desenvolvimento das personagens e em conservar o ritmo e a atmosfera iniciais, poderia ter alcançado um impacto mais significativo. Encontra-se longe de ser um desastre cinematográfico. Tem potencial e vários elementos merecem ser apreciados, mas acaba por se perder na execução. Conseguiu entreter-me durante os seus 100 minutos de duração, mas não me deixou com um desejo profundo de o rever.
Em 04 Aug 2024