Autor: Filipe Manuel Neto
**Um bom filme, onde Robin Williams se equilibra habilmente entre o riso e o coração.**
A maneira como as pessoas reagem nas dificuldades diz-nos muito acerca delas. Há quem fique histérico, há quem se preocupe mais com os outros do que consigo, há quem faça exactamente o oposto e há quem encare tudo com calma e tente agir com racionalidade. A doença e a morte são situações em quem ninguém gosta de pensar… mas são inevitabilidades da vida, e a maneira como as enfrentamos diz-nos muito sobre como somos. ‘Patch’ Adams é um médico da vida real que defende o uso da alegria e do humor como parte da terapêutica médica, e eu pessoalmente concordo inteiramente com ele. Aqui em Portugal até temos um ditado popular que diz que rir é sempre o melhor remédio.
Neste filme, observamos o percurso de vida de ‘Patch’ Adams desde que é internado numa clínica psiquiátrica. O filme é eloquente na forma como nos revela as resistências da universidade, que defendia metodologias mais impessoais, pondo um distanciamento claro entre o médico e o seu doente, e na maneira como mostra a forma modesta como nasceu o Instituto Gesundheit, que ‘Patch’ Adams funda de acordo com a sua visão da medicina e da prática médica. Não sei se o filme foi rigoroso em tudo (acredito que não, posto que até o próprio ‘Patch’ Adams repudiou a maneira como foi retractado pelo filme), mas a verdade é que o roteiro funciona bastante bem, equilibrando-se bem entre o engraçado e o açucarado, e traz-nos um tema que faz pensar.
Fico feliz pela escolha de Robin Williams para a personagem principal. Ele era a pessoa ideal para lhe dar um toque de irreverência que consegue alavancar a comédia a um nível de verdadeira loucura. Não é o melhor trabalho do actor, mas está entre os dez melhores e mais engraçados. Em perfeito contraponto temos as personagens de Phillip Seymour Hoffmann e Bob Gunton: o primeiro é o aluno-modelo das escolas médicas, estudioso, sério, sisudo e empenhado, mas que sente inveja do colega irreverente e engraçado; o segundo é obviamente o director da faculdade médica, determinado a impedir a formatura de Patch apesar das classificações excelentes que ele obtém nas várias disciplinas. São personagens cliché, bastante estereotipadas, mas resultam graças ao desempenho de ambos os actores, que nos dão um trabalho de mérito. Monica Potter é menos interessante. Ela é bonita, mas a química com Williams é nula e o romance deles nunca parece tão intenso e sólido quanto deveria. O restante elenco faz o que precisa ser feito, sem grandes notas a destacar.
O filme não é um espectáculo visual ou de efeitos… isso não é sequer desejável aqui. Com uma história tão sólida e boas premissas de humor, é ao roteiro e aos actores que deve ser reservada a ribalta, e é precisamente isso que acontece. Assim, temos uma cinematografia discreta que nos brinda com um visual elegante, mas que não sobressai, com tons quentes e uma boa luz e nitidez. Os figurinos e cenários estão dentro daquilo que podíamos esperar, sem surpresas, e as locações de filmagem foram bem escolhidas. Gostei especialmente de algumas paisagens, como as montanhas onde Patch resolve fundar o seu hospital. A banda sonora harmoniza-se com esta tónica discreta graças a uma sonoridade orquestral e suave.
Em 13 Feb 2022