Autor: Filipe Manuel Neto
**Tem mais problemas do que as manchas da pele de um dálmata.**
"Os 101 Dálmatas", na sua versão live action de 1996, foi um filme bastante interessante, que fez parte da minha infância. Ainda hoje, ao ver esse filme, me recordo desses tempos. E claro, teve uma das mais estrondosas interpretações de Glenn Close. Infelizmente, não consigo ser tão generoso com este filme, que deu continuidade a essa história.
De facto, o roteiro do primeiro filme estava tão bem fechado que era muito difícil dar-lhe uma continuidade lógica. As personagens humanas desta história são totalmente distintas e não aparecem no primeiro filme, com excepção da grande vilã (que não podia faltar) e do seu serviçal, Alonso, sempre pronto para ser humilhado. Cabe a eles, e aos cães, fazer o elemento de ligação com a primeira história pois, supostamente, os cães adultos deste filme eram alguns dos cachorrinhos do filme inicial. Soa frágil? Se soa é porque realmente é frágil. A forma como Cruella é curada parece pouco credível, mas ainda mais inverosímil é a maneira como ela volta a ser quem sempre foi (muito embora nos brinde com uma das cenas mais brilhantes de todo o filme: Cruella em plena transformação, alucinando nas ruas da City londrina). Os cachorrinhos continuam sendo fofos, mas isso já não funciona tão bem como da primeira vez, e o papagaio consegue, por vezes, ser verdadeiramente irritante. Por fim, senti também um problema de ritmo neste filme: se o filme evolui normalmente até mais ou menos a meio, acelera bruscamente na metade final, para uma conclusão brusca e repentina numa padaria.
Em última análise, o que vai salvando este filme são as excelentes interpretações de Glenn Close (ainda assim, longe do impacto que teve no primeiro filme) e de Gerard Depardieu, no papel de um dos cúmplices de Cruella. A parceria de vilões resultou mal, mas os dois actores mostraram um excelente entendimento à frente da câmera. Tim McInnerny ainda é engraçado. Todos os demais actores não conseguem acompanhar este trio e limitam-se a aparecer, falar e fazer o que têm de fazer.
Em 11 Aug 2019