Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme verdadeiramente longo sobre uma batalha que durou três dias.**
Há filmes épicos e há filmes enormes. Este consegue ser ambas as coisas. É um filme épico de guerra, e um filme imensamente longo, com as suas quatro horas e meia de duração.
Não vale muito a pena deter-me a contar o roteiro. Quem souber um mínimo de história dos EUA, mesmo sem ser cidadão americano, conhece a Batalha de Gettysburg (1863) e toda a sua relevância para o desenrolar da Guerra de Secessão. Foi a batalha decisiva, que não só travou a sucessão de vitórias militares que os Confederados vinham arrecadando como destroçou todo o corpo principal do seu exército, deixando o Sul, virtualmente, à mercê dos Ianques. O filme faz um bom trabalho ao focar-se não apenas na batalha em si mas nas pessoas que tomaram parte nela, nos pequenos dramas pessoais, na forma como a guerra separou pessoas que até se relacionavam bem anteriormente. O filme consegue passar esse lado humano do conflito e dar-lhe rosto. Menos bem conseguidos, por vezes, foram os diálogos. Se na maioria do tempo funcionam razoavelmente bem, às vezes soam de modo teatral, claramente inventado e muito improvável naquele tempo e contexto. Mas tudo bem, eu lidei bem com isso. Mais difícil de lidar foi a leve sensação de que este filme, longe de ser neutro, tem uma clara simpatia pela causa confederada, expressa na enorme visibilidade dada aos confederados.
O elenco é muito vasto, está carregado de nomes sonantes que dão o seu melhor aqui mas não dá para prestar a devida atenção em todos os actores e nem todos tiveram a mesma oportunidade para brilhar. Pessoalmente, eu destacaria as boas performances de Tom Berenger e Martin Sheen, no papel dos generais confederados Longstreet e Lee, os rostos do comando militar confederado, bem como Sam Elliott e Richard Anderson, no papel do brigadeiro John Buford, e do General Meade, os líderes do exército unionista nesta batalha. Os quatro actores fazem um trabalho excelente nos seus papéis. O mesmo pode ser dito de Jeff Daniels e de George Lazenby, no papel de dois oficiais confederados, e ainda de uma série de outros actores como Stephen Lang, Richard Jordan, Cooper Huckabee, Patrick Gorman e Andrew Prine.
A nível técnico, o filme é um espectáculo colossal com imenso dinheiro envolvido. Foi feito à moda antiga, com centenas de figurantes vestidos a preceito e efeitos especiais para recriar as batalhas. A cinematografia é bastante boa e consegue captar bem a acção e os combates, ao mesmo tempo que se adequa bem às cenas mais paradas. A nível de rigor histórico, o filme parece-me cumprir com os mínimos exigíveis. O que eu estranhei mais foram as barbas e os bigodes de aparência pouco natural, os uniformes impecáveis e sem sujidade ou um único remendo, os equipamentos e adereços limpos. Parece que começaram a guerra ontem. E sim, não há dúvida alguma: apesar de o filme estar muito bem feito e de ter imenso valor, há pelo menos 45 minutos de cenas dispensáveis e que poderiam ter sido editadas para tornar o filme mais curto e mais palatável. Quatro horas e meia é uma duração excessiva para um filme. Mas dado que a batalha durou três dias, até acho que a resumiram bastante bem.
Em 14 Jun 2020
Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme verdadeiramente longo sobre uma batalha que durou três dias.**
Há filmes épicos e há filmes enormes. Este consegue ser ambas as coisas. É um filme épico de guerra, e um filme imensamente longo, com as suas quatro horas e meia de duração.
Não vale muito a pena deter-me a contar o roteiro. Quem souber um mínimo de história dos EUA, mesmo sem ser cidadão americano, conhece a Batalha de Gettysburg (1863) e toda a sua relevância para o desenrolar da Guerra de Secessão. Foi a batalha decisiva, que não só travou a sucessão de vitórias militares que os Confederados vinham arrecadando como destroçou todo o corpo principal do seu exército, deixando o Sul, virtualmente, à mercê dos Ianques. O filme faz um bom trabalho ao focar-se não apenas na batalha em si mas nas pessoas que tomaram parte nela, nos pequenos dramas pessoais, na forma como a guerra separou pessoas que até se relacionavam bem anteriormente. O filme consegue passar esse lado humano do conflito e dar-lhe rosto. Menos bem conseguidos, por vezes, foram os diálogos. Se na maioria do tempo funcionam razoavelmente bem, às vezes soam de modo teatral, claramente inventado e muito improvável naquele tempo e contexto. Mas tudo bem, eu lidei bem com isso. Mais difícil de lidar foi a leve sensação de que este filme, longe de ser neutro, tem uma clara simpatia pela causa confederada, expressa na enorme visibilidade dada aos confederados.
O elenco é muito vasto, está carregado de nomes sonantes que dão o seu melhor aqui mas não dá para prestar a devida atenção em todos os actores e nem todos tiveram a mesma oportunidade para brilhar. Pessoalmente, eu destacaria as boas performances de Tom Berenger e Martin Sheen, no papel dos generais confederados Longstreet e Lee, os rostos do comando militar confederado, bem como Sam Elliott e Richard Anderson, no papel do brigadeiro John Buford, e do General Meade, os líderes do exército unionista nesta batalha. Os quatro actores fazem um trabalho excelente nos seus papéis. O mesmo pode ser dito de Jeff Daniels e de George Lazenby, no papel de dois oficiais confederados, e ainda de uma série de outros actores como Stephen Lang, Richard Jordan, Cooper Huckabee, Patrick Gorman e Andrew Prine.
A nível técnico, o filme é um espectáculo colossal com imenso dinheiro envolvido. Foi feito à moda antiga, com centenas de figurantes vestidos a preceito e efeitos especiais para recriar as batalhas. A cinematografia é bastante boa e consegue captar bem a acção e os combates, ao mesmo tempo que se adequa bem às cenas mais paradas. A nível de rigor histórico, o filme parece-me cumprir com os mínimos exigíveis. O que eu estranhei mais foram as barbas e os bigodes de aparência pouco natural, os uniformes impecáveis e sem sujidade ou um único remendo, os equipamentos e adereços limpos. Parece que começaram a guerra ontem. E sim, não há dúvida alguma: apesar de o filme estar muito bem feito e de ter imenso valor, há pelo menos 45 minutos de cenas dispensáveis e que poderiam ter sido editadas para tornar o filme mais curto e mais palatável. Quatro horas e meia é uma duração excessiva para um filme. Mas dado que a batalha durou três dias, até acho que a resumiram bastante bem.
Em 14 Jun 2020