Autor: Filipe Manuel Neto
**Terá sido seguramente mais interessante na época em que foi lançado.**
Quando este filme saiu, em 1972, havia qualquer coisa de interessante em temáticas com ligação à natureza e ao meio ambiente. Não que o ambientalismo estivesse em voga, mas era a época de ouro do movimento ‘hippie’ que advogava, entre outras coisas, uma ligação mais harmónica entre o Homem e a Natureza. E de facto, o que temos aqui é um grupo de quatro homens da grande cidade que procura encontrar diversão, emoções e beleza no meio natural, num rio selvagem e cheio de corredeiras que vão desaparecer daí a poucos meses devido à construção de uma barragem. Porém, quando eles começam a descida do rio, as coisas começam a correr terrivelmente mal após um encontro com dois homens.
Encaixando-se naquele tipo de thrillers de natureza onde o homem enfrenta os perigos da Natureza ou de pessoas hostis, é um daqueles filmes que não consigo entendo como é que foi nomeado a três Óscares (Melhor Filme, Melhor Director e Melhor Edição). Não é, de todo, memorável, e a prova é que, fora dos EUA, ninguém se lembra dele. John Boorman, que assina a direcção, dá-nos um trabalho cheio de tensão e brutalidade, que nos tira todo o conforto e nos faz cerrar os dentes. Isso é muito bom! Porém, o director não contornou da melhor forma as dificuldades causadas pelo baixo orçamento e o filme ostenta sempre um aspecto barato e de “segunda categoria”, seja a nível de adereços, cenários e figurinos, seja na cinematografia desagradável, com cores lavadas e sem brilho, falta de contraste e sombras. Mesmo a celebrada banda sonora dos banjos me pareceu feia e cansativa.
Se existe um valor salvífico que torna este filme merecedor de atenção é a qualidade que observamos no trabalho dos actores principais. Burt Reynolds, Jon Voight, Ned Beatty e Ronny Cox são excelentes nos seus respectivos papeis e empenham-se ao máximo neste projecto. Gostei especialmente de Voight, que exala carisma e energia. E apesar de poder, eventualmente, falar um pouco do bom trabalho de Bill McKinney e Herbert Coward, o facto é que o filme carece totalmente de um elenco secundário de qualidade que apoie os quatro actores principais. Antes de terminar, uma nota sobre o título do filme: eu fiquei deveras ensimesmado com o título original, em inglês. “Deliverance” poderá ser o título do trabalho literário original em que o filme se baseia, porém, se considerarmos que este filme nunca o explica e que nunca entendemos claramente o título, talvez tivesse sido boa ideia arranjar um título mais claro.
Em 11 Mar 2024