Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme tocante e comovente.**
Fiquei muito contente com este filme. Não o conhecia, e resolvi vê-lo estes dias porque vi que o filme contava com a participação de Robin Williams, um actor que eu aprecio muito. Mas o filme vai para além disso, e dá-nos uma história profundamente comovente, baseada numa situação real, em que uma equipa de médicos que, nos anos 60, procurou ajudar na recuperação de doentes catatónicos que haviam sobrevivido a uma epidemia de encefalite letárgica acontecida algumas décadas antes, entre 1915 e 1926. Um tema pertinente e actual, principalmente numa altura da história em que a raça humana enfrenta uma pandemia que parece ter vindo para ficar.
Apesar de esta doença ser conhecida desde sempre, a epidemia dos anos 20 está, hoje em dia totalmente esquecida, e merecia por si só mais estudos e atenção por parte de médicos e de historiadores. Na verdade, tenho de concluir, após uma breve leitura sobre o tema aqui e além, que sabemos muito pouca coisa sobre o que aconteceu: não se sabem as causas do surto, nem as mecânicas de propagação ou o que levou alguns doentes à morte ou à catatonia. O que nós sabemos, e o filme nos mostra, é que a doença matou mais de um milhão de pessoas e condenou cerca de quatro milhões a uma vida absolutamente dependente de terceiros. Estátuas vivas. O filme está realmente muito bem feito e mostra a forma como um médico original, através de ideias criativas e de uma perspectiva nova das coisas, realmente ajudou doentes que os outros simplesmente preferiram ignorar, considerar como casos perdidos.
Robin Williams é excelente e emprega muito carisma e presença neste seu trabalho, tornando a sua personagem particularmente tocante, humana, autêntica e simpática. Mais surpreendente foi a performance de Robert De Niro: muito distante dos papéis de durão que lhe deram fama, o actor teve a coragem para dar vida a uma personagem vulnerável, insegura, dependente, um pouco ensimesmada e desejosa de recuperar décadas de tempo perdido. O filme conta ainda com as participações de Julie Kavner, Ruth Nelson, John Heard e outros actores.
O filme conta com uma boa cinematografia e uma direcção criteriosa. O filme foi bem filmado e editado, e tem bons cenários e figurinos, muito embora seja a história contada e o desempenho dos actores a chave para tudo o resto funcionar.
Em 30 Apr 2022