Autor: Filipe Manuel Neto
**Um dos primeiros dos Cohen... interessante mas lento.**
Este é outro "filme noir" assinado pelos irmãos Cohen, que asseguram a direcção e o roteiro. Mais um numa lista considerável, visto que eles gostam do estilo "noir" com um toque inteligente de ironia cínica. No entanto, este filme não é novo e eu não sei até que ponto vai envelhecer bem ou se vai transformar num trabalho menor da filmografia deles.
O filme tem muitos aspectos bons, principalmente nas questões técnicas. A fotografia é elegante e usa bem a luz e sombra, o alto contraste, as cores lavadas e os faróis dos carros. Embora eu não tenha nenhum dado em mãos, ouso formular a hipótese de que usaram lentes de grande angular nas filmagens. Estou apenas a adivinhar. No entanto, o principal problema do filme é o roteiro.
O enredo todo é baseado num triângulo amoroso entre Abby, o seu amante, Ray, e o seu marido, Marty, que decide matá-los, movido por ciúmes, corrompendo um detective privado para fazer o trabalho sujo. Mas as coisas acabam mal para Marty e tudo fica mais complicado, como o enredo a dar várias reviravoltas. A ausência virtual de banda sonora, o foco dado ao diálogo, a atmosfera de suspeita latente entre todos e a e ambiguidade moral das personagens são características que podemos comprovar, e que são usuais nos filmes "noir". Isso tudo é bom e teria sido ainda melhor se não houvesse problemas: para começar, o filme leva muito tempo para despertar o nosso interesse. De facto, o começo é lento demais para ter um impacto inicial bom. Os diálogos também podem ser bastante chatos. Por fim, há outro problema: muitos buracos na trama. Se eu fosse um técnico de ciências forenses, esta teria sido a investigação criminal mais rápida e fácil da minha carreira.
Sobre os atores, posso dizer que gostei do elenco, mas não fiquei impressionado. John Getz e Frances McDormand, apesar de serem os actores principais, não brilharam, fazendo só o que tinham de fazer. Dan Hedaya tinha a tarefa de dar vida a uma personagem detestável, mas fundamental, e gostei de seu trabalho. No entanto, acho que M. Emmet Walsh merece mais destaque que eles. É pelo olhar cínico e obtuso da personagem dele que vemos o filme (ele é, em parte, um narrador) e é ele quem assume preponderância na forma como os eventos se desenrolam, dando-lhe um protagonismo que dificilmente teria se não fosse o caso. O actor realmente esforçou-se, de modo que a personagem quase pode ser absolutamente repelente ao incorporar, de maneira visual e palpável, a sua moralidade duvidosa e falta de escrúpulos.
Em suma, este é um filme interessante que vale a pena ver mas pode não agradar à maioria das pessoas, já que é bastante lento e leva tempo para se desenvolver. No entanto, sendo um dos primeiros filmes dos Cohen, é um marco para as suas carreiras.
Em 14 Nov 2018