Autor: Pedro Quintão
A DreamWorks conseguiu em The Wild Robot trazer de volta a magia do cinema de animação que há muito associávamos à Pixar. Durante anos, os filmes da Pixar eram sinónimo de emoção, mas nos últimos 14 anos, acho que todas as suas produções, à exceção de Inside Out (2015) têm sido mais genéricas e superficiais. Felizmente, apesar de ser de outro estúdio, este filme trouxe-me de volta a sensação que sinto ao ver as animações mais antigas da Pixar.
A narrativa de The Wild Robot é simples mas belíssima e tocante. A história explora o contraste entre a tecnologia e a natureza de uma forma que é ao mesmo tempo comovente e intrigante. Desde o início, somos envolvidos pela ingenuidade do robô protagonista e pela curiosidade dos animais que o rodeiam, que exemplificam a coexistência entre o natural e o artificial de uma forma singular. Esse contraste é trabalhado com muito cuidado, e durante a maior parte do filme senti-me completamente imerso na beleza desta interação.
As personagens, com as suas personalidades distintas, cativam-nos de imediato. Cada cena transborda um toque nostálgico que nos leva a recordar a emoção dos filmes de animação clássicos, aqueles que via em criança e que pareciam infinitamente mágicos. É um filme que consegue conquistar tanto miúdos como graúdos.
Contudo, se os primeiros dois atos são realmente emocionantes e conseguem evitar os clichês ao não existir espaço para grandes vilões ou cenas de ação inseridas à força, o último ato acaba por ceder à fórmula mais convencional e, infelizmente, desilude um pouco. Parece que se afastou da sua essência original e do potencial de uma mensagem mais única, além de que o desfecho foi desnecessariamente agridoce, como se os produtores "já estivessem de olho" numa sequela. Esse ato final podia ter sido melhor trabalhado, ou até mesmo evitado, para manter a integridade da história que nos vinha a ser contada. Na minha ótica, não existiria qualquer problema se não existissem vilões convencionais neste filme e acompanhássemos somente uma jornada de descoberta.
Apesar dessa mudança de rumo no desfecho, The Wild Robot é um título brilhante, uma lufada de ar fresco no género e foi, até ao momento, a melhor animação deste ano. É um filme com lições valiosas, que consegue encantar e emocionar, deixando um impacto positivo em todos nós. Recomendo para toda a família, lembrando-nos que a animação ainda consegue tocar o coração de adultos como na nossa infância.
Em 28 Oct 2024