Autor: Filipe Manuel Neto
**Um ‘western’ muito bem feito, que substitui a glorificação pelo realismo cru.**
Gostei bastante deste filme, que é muito centrado nas figuras notáveis de Wyatt Earp, Virgil Earp, Morgan Earp e Doc Holliday durante o período em que foram a lei e a ordem na cidade de Tombstone. Na cultura popular, eles ficaram famosos devido a uma curta, mas intensa, troca de tiros com um grupo de pistoleiros da cidade, denominado Tiroteio do Ok Corral. O incidente, que aconteceu em Outubro de 1881, foi amplamente romantizado nos inícios do século XX e tornou-se um símbolo do Velho Oeste.
Na verdade, o tiroteio, que aparece neste filme, foi apenas um incidente violento numa longa rixa entre os xerifes e os pistoleiros. As causas estão ainda envoltas em neblinas que os historiadores tentam, com dificuldade, penetrar, e a rixa continuou e redundou no assassinato de um dos irmãos Earp e na perseguição e morte de alguns dos assassinos, numa verdadeira caça ao homem. Eu sou historiador, mas não sou um perito no período nem no Oeste Selvagem, todavia senti que o filme conseguiu colocar tudo no seu contexto e respeitar, minimamente, o que realmente aconteceu.
Se há algo neste filme que merece ser destacado é o trabalho dos actores. Temos um magnífico elenco, carregado de actores competentíssimos e que se empenharam nos seus respectivos papéis. O esforço merece o nosso louvor. Claro que Kurt Russel vai ter um destaque especial ao receber a personagem de Wyatt Earp, mas o actor fez bom uso desse protagonismo e conseguiu ser muito carismático e simpático para o público. Sam Elliott, um daqueles veteranos com muita atitude e personalidade, não podia ser melhor e é incrivelmente bom neste filme. Talvez seja o melhor filme do actor. Val Kilmer não é um daqueles actores que me leva a querer ver um filme, mas a verdade é que também foi muito bom no seu trabalho, e conseguiu harmonizar bem a fragilidade e o carisma da personagem dele.
Dirigido por Kevin Jarre e George Cosmatos, o filme é um daqueles ‘western’ que foram contrariar os clássicos, desmantelando a figura glorificada do cowboy, a bravura e frieza do pistoleiro e do vilão, e dar um sabor mais realista e historicamente credível aos filmes deste género. O roteiro é muito bom, está muito bem escrito, e o trabalho técnico das equipas de efeitos visuais, de maquilhagem, de figurinos e de concepção de cenários foi verdadeiramente primoroso. A cinematografia também não nos decepciona e faz um uso muito inteligente de tudo isso, e dos cenários e filmagens exteriores, com magnífica luz e uma paleta de cores quentes que é simplesmente deliciosa. A banda sonora, apesar de não ser memorável nem merecer uma atenção particular, faz um trabalho bem feito.
Em 20 Jul 2023