Autor: Filipe Manuel Neto
**Este filme de qualidade mediana tem criatividade e algumas boas qualidades, mas não consegue ultrapassar todos os problemas com que se depara.**
Não tinha expectativas muito elevadas quando me resolvi a ver este filme. Sabia que era um filme passado num futuro que, agora, para nós, é passado (o ano de 2017) e que era mais um filme sobre uma fuga de uma prisão. Sabia ainda que tinha sido um sucesso na Europa, especialmente no mercado VHS, e que estava esquecido desde o fim das fitas e mais ninguém falava nele. Resolvi espreitar, ver se valia a pena e gostei do que vi. É um filme criativo, feito por pessoas com ideias e capacidade para ir descortinando soluções imaginativas, assente num elenco competente, e que aproveitou bem o curto orçamento.
O roteiro leva-nos a uma prisão de alta segurança, construída no subsolo do deserto dos Estados Unidos, a fim de acompanharmos um casal que acaba de ser preso por tentar ter um segundo filho, coisa proibida pela “política de filho único” então em força nos EUA. Sentenciados à ultrajante pena de 31 anos de prisão, são colocados dentro daquele lugar, onde tudo é controlado por computador e depende de um vicioso e sádico director, e do próprio sistema informático, que parece por vezes ter vida própria. Até os sonhos destes reclusos são controlados e censurados por via de um mecanismo instalado no intestino, e que os poderá matar se pisarem o risco (literalmente).
O roteiro tem um problema grave: assenta numa premissa velha que são as fugas da prisão. Já vimos imensas, porque quase todas as grandes fugas da história já foram, de algum modo, adaptadas para a tela. Todavia, o filme tenta dar a volta ao problema com doses de imaginação e criatividade que o futurismo admite bem. A violência gráfica de algumas cenas também pode incomodar algumas pessoas, mas acho que até já vi coisas piores. Porém, fica o aviso: temos de tudo, desde a explosão dos intestinos a andróides semi-humanos com um aspecto disforme. Nota-se um investimento em efeitos visuais, efeitos especiais, maquilhagem, cenários e figurinos de qualidade, e esse investimento compensou. Infelizmente, a cinematografia não muito boa, está até abaixo do padrão da época em que o filme foi feito, mas eu lidei bem com isso.
Stuart Gordon dá ao filme uma direcção bem conseguida, eficaz, conseguindo tirar todo o proveito daquilo que tem para trabalhar. Christopher Lambert, o eterno McLeod, está em excelente forma aqui e faz um trabalho sólido, ainda que o papel seja simples e não lhe exija esforço. Kurtwood Smith é um vilão eficiente, frio e digno do nosso desprezo, mas também provoca alguma simpatia pela sua busca por um certo calor humano que a sua personagem perdeu. Loryn Locklin também é uma adição bem vinda, mas senti por várias vezes que a personagem tinha pouco a fazer e se limitava a ser uma donzela em perigo. Tom Towles, Clifton Collins Jr., Vernon Wells, Jeffrey Combs e Lincoln Kilpatrick asseguram um apoio eficaz, mas não podem fazer mais do que isso.
Em 15 Aug 2023