Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme decente, que tem o necessário para nos entreter minimamente, mas que está ainda longe de ter a qualidade que gostaríamos de ver.**
Depois de muitos anos adormecida, a franquia *Pantera Cor-de-Rosa* teve direito a uma ressurreição muito breve com dois filmes protagonizados por Steve Martin. Eu vi os filmes originais, dos anos 60, 70 e 80, em que Peter Sellers deu vida ao famigerado Inspector Clouseau. Com a morte de Sellers, a franquia continuou, com alguns filmes absolutamente maus e que ditaram o seu fim. Este novo filme foi muito atacado pela crítica e não conseguiu dar ao público tudo aquilo que ele queria, mas a verdade é que foi um sucesso de bilheteira e que, ainda hoje, tem direito a exibições recorrentes nos canais de TV, algo que os filmes originais não têm mais.
A escolha de Steve Martin para o protagonista, creio, foi bastante sábia, na medida em que o actor soube fazer um trabalho que respeita e procura honrar o legado de Sellers (um actor que o próprio Martin admitiu admirar muito). Martin é bom no que faz, e é um actor cómico bem conhecido, mas o humor em que aposta é mais previsível e idiota do que o humor de Sellers, e a verdade é que não é particularmente engraçado. Jean Reno foi uma adição bem-vinda, sendo que o actor se mostra bastante à vontade com o papel e o tipo de humor que lhe é reservado. Emily Mortimer funciona muito bem como interesse amoroso platónico. Eu achei-a muito mais engraçada do que o próprio protagonista. Kevin Kline não funciona muito bem como Dreyfus: o actor deu-lhe uma seriedade que lhe retira toda a piada. Por sua vez, Beyoncé parece ter sido escolhida apenas pela beleza física e capacidade para mobilizar os fãs dela para verem o filme. Ela não consegue representar uma personagem, está simplesmente a ser ela mesma.
O roteiro é uma parte do problema deste filme, com uma história rebuscada e rocambolesca em que o diamante rosa é roubado quase à vista de toda a gente, logo após a morte do seu dono, um famoso treinador de futebol. A história é simplesmente fraca e pouco apelativa. E apesar de a cinematografia ser decente, os locais de filmagem serem bem escolhidos e bem aproveitados e os créditos iniciais animados serem bastante bem feitos, o resto coxeia bastante: a edição e o trabalho de efeitos visuais são pontos fracos do filme, o ritmo parece desigual e desequilibrado e a banda sonora parece limitar-se a uma série de variações em cima do ‘leitmotiv’ dado pelo tom da música original de Mancini.
Em 10 Jun 2022