Pecadores

Autor: Pedro Quintão

Sinners tem sido um dos filmes mais falados do momento, especialmente depois de atingir uns impressionantes 97% no Rotten Tomatoes. Talvez por isso mesmo, entrei na sala com expectativas demasiado elevadas. A verdade é que, apesar de reconhecer o seu mérito, saí com uma sensação agridoce. Este é um filme que tem coisas interessantes para dizer, mas que parece muitas vezes preso entre aquilo que quer ser e o que acaba por efetivamente mostrar. A narrativa demora bastante a arrancar. Durante cerca de 1h20m, somos mergulhados no quotidiano dos irmãos gémeos ambos interpretados por Michael B. Jordan, numa interpretação sólida e carismática, mas que me confundiram por serem exatamente iguais, tornando-se em certos momentos difícil indentificar cada um perante o outro. A construção da tensão é quase inexistente nessa primeira parte, e a promessa de terror que paira desde o início vai-se diluindo numa série de diálogos e interações sociais que, mesmo sendo relevantes do ponto de vista temático (com reflexões sobre racismo, escravatura e herança cultural), acabam por tornar o ritmo arrastado para aqueles que procuram um filme de ação com elementos de terror. A grande questão é que Sinners apresenta-se como um filme de vampiros, mas durante grande parte do tempo parece esquecer-se disso. Só no último terço é que o terror entra finalmente em cena, com sequências competentes do ponto de vista visual (há planos bem enquadrados, CGI competente e um certo cuidado na fotografia nocturna. Porém, nesse momento, tudo é entregue de forma previsível e sem grande impacto emocional. O filme hesita entre ser uma exploração psicológica mais densa ou uma festa de gore, preferindo por ser apenas um pouco de ambos e, consequentemente, acabando por não se comprometer com nenhum dos lados. Curiosamente, o momento mais memorável surge já depois do final. A cena pós-créditos é uma pequena pérola: bem escrita, provocadora e com uma reviravolta que me deixou vontade de ver mais. Aliás, poderiam ter cortado 30 minutos do filme e trabalhado ainda mais essa reviravolta da cena pós-créditos. É, honestamente, uma das melhores cenas pós-créditos que vi nos últimos anos, uma verdadeira lição para estúdios como a Marvel, que têm banalizado esse formato. Em termos de comparação, Sinners poderia ter seguido o caminho mais maduro de Let the Right One In ou aye mesmo de Get Out, filmes que usaram o terror como metáfora para dilemas humanos profundos ou para pesadas críticas sociais. Em vez disso, fica a meio caminho entre o comentário social e o entretenimento genérico, perdendo a oportunidade de se destacar verdadeiramente. No final, Sinners entretém e aborda temas históricos com algum peso, mas falha em cumprir a promessa de um terror vibrante ou de uma narrativa arrebatadora. É um filme que me conseguiu entreter, mas que dificilmente ficará na minha memória como uma referência do género.