Autor: Filipe Manuel Neto
**Satisfatório, mas o roteiro já era conhecido de quem viu os filmes anteriores da franquia.**
Este foi o terceiro filme da franquia *Underworld*, e funciona como uma prequela a todos os demais. Porém, foi o segundo da franquia que eu vi, logo a seguir ao primeiro e deixando o segundo filme para ver em terceiro lugar. Sinceramente pareceu-me mais lógico assim. Neste filme, recuamos séculos atrás até à Alta Idade Média europeia, para seguir os acontecimentos que estiveram na origem da guerra eterna entre os vampiros e os lycans.
O filme ambienta-se num ponto qualquer da Europa Oriental onde os vampiros são a classe dominante, chegando mesmo a ter controlo sobre os humanos, que pagam aos vampiros para serem protegidos dos sanguinários lobisomens, que ainda estão longe de conseguir controlar-se. O filme acompanha o nascimento de Lucian, o primeiro lobisomem capaz de se controlar e de assumir a forma humana quando quer. O primeiro lycan (agora já consigo perceber qual será a diferença de um lycan e um lobisomem). Ele viverá toda a vida escravo dos vampiros, que são governados por Viktor, mas apaixona-se pela filha dele, a vampira Sonja. Vendo isso como uma traição, receando o cruzamento das espécies e o descontrolo dos Lycans, até então escravizados, Viktor mata a própria filha levando Lucian a liderar a revolta contra os vampiros.
O enredo não é novidade, posto que boa parte da história que ele mostra foi contada durante o primeiro filme. Por isso é que contei tudo aqui, porque não considerei isso um spoiler. Pode parecer que não, mas o facto de já sabermos quase tudo o que vai acontecer tirou imenso impacto ao filme. Não há qualquer efeito-surpresa ou reviravolta emocionante. Por outro lado, o filme carece de qualquer verosimilhança histórica: os cenários, figurinos, armas, armaduras e adereços são tão imaginativos que não são datáveis de qualquer época histórica precisa, e é a soma do conjunto que nos permite perceber que o filme se passa na Idade Média. De facto, algumas armaduras e armas até parecem ter sido tiradas de um depósito de adereços de *O Senhor dos Anéis*. É um filme sem o apelativo sexual que o primeiro tinha, mas com quase o dobro da brutalidade, das mortes violentas e da testosterona. Funciona razoavelmente, mas não é verdadeiramente bom.
O elenco tem muitos nomes conhecidos. Pela positiva destaca-se Michael Sheen, numa performance mais dramática e madura da personagem que esboçou no primeiro filme. Ainda muito bom, Bill Nighy regressa à sua personagem aristocrática e sádica com a sua voz e dicção únicas. Acredito que o actor conseguiu, com estes filmes, um dos trabalhos que vai certamente marcar a sua carreira. Kevin Grevioux passa despercebido e Rhona Mitra pareceu-me bem, sendo expressiva, dramática, romântica e intensa. Ela conseguiu dar credibilidade ao romance da personagem dela e as cenas com Sheen são boas, apesar de a química não ser notável. O elenco restante não merece menção ou destaque.
Tecnicamente, o filme é muito semelhante ao que já foi visto anteriormente. A cinematografia é forçosamente escura e sombria, o ambiente é soturno, os cenários, adereços e figurinos ao estilo medieval são pouco credíveis mas visualmente impressionantes e o filme transborda de estilo e charme, sem contudo ter tanta substância assim. As cenas de acção são muitas e as mortes vão acontecendo, umas mais cruas que as outras, com sangue falso por toda a parte e sem que nos importemos muito com o que estamos a ver. A única morte que verdadeiramente nos poderia afectar – Sonja – é uma morte já aguardada por quem já viu os filmes anteriores e já conhece a história.
Em 11 Jul 2020