Autor: Filipe Manuel Neto
**Com pontos fortes ao nível visual e técnico, seria muito melhor com um roteiro mais desenvolvido e mais bem escrito.**
Não sei se serei a única pessoa a dizer isto, mas penso que um filme de terror funciona melhor se virmos alguma inteligência no roteiro e nas atitudes das personagens, e se o antagonista principal for misterioso e capaz de nos surpreender. Gostei de “Prometheus”, um filme melhor do que o esperado, ainda que com um roteiro confuso. Este filme estabelece um elo mais claro e palpável entre esse filme e a franquia “Alien”. O roteiro acompanha a “Covenant”, uma nave colonizadora recheada de pessoas em hipersono. A nave recebe um sinal misterioso de um planeta que, tudo indica, tem excelentes condições para a vida, mas rapidamente se apercebe de que tropeçou num local onde nunca devia ter aterrado. Após ter visto o filme, fiquei com a sensação de que estamos diante de uma obra bastante sólida e que só perdeu quando foi comparada com a franquia original. Talvez a melhor forma de ser justo seja, realmente, evitar esse exercício comparativo, sedutor e quase impossível de não ser feito.
Vamos começar pelas coisas boas? Muito bem! O filme é um colírio para os olhos, principalmente para os fãs do sci-fi e para quem gostar de filmes muito visuais e com altas doses de efeitos especiais, CGI ou cenários extraordinariamente detalhados. Não há dúvidas de que o orçamento teve uma fatia generosa reservada para os técnicos de computador, os designers de arte e figurino e para a cinematografia, e este investimento deu frutos excelentes. Tudo é acompanhado por uma excelente banda sonora e por bons efeitos de som. E claro, há imensas cenas tensas. É um daqueles filmes onde a tensão é permanente, mas que nunca chega, propriamente, a assustar-nos.
Infelizmente, isso é basicamente tudo o que este filme tem de bom para nos oferecer. Os fãs da franquia Alien irão garantir que o filme esclarece diversos pontos cinzentos da narrativa doutros filmes, como “Prometheus”, e eu concordo com esse argumento, mas isso não me parece algo que devamos valorizar em excesso, porque realmente era o mínimo que se exigia deste filme! Ao nível de roteiro, é francamente decepcionante: além de ser preguiçoso, aproveitando ao máximo o que foi feito para os outros filmes com os quais se articula, acrescenta poucas coisas novas. Cria, sim, umas criaturas novas, “primas” do xenomorfo original, mas é só isso. As personagens humanas ou semi-humanas são parvas, desprovidas de desenvolvimento e parecem estar à espera de ser mortas.
O filme começa muito bem, mas torna-se lento e cansativo à medida que se torna previsível. Tenho muita consideração pelos trabalhos de Ridley Scott, acho que é um director bastante habilidoso e com créditos firmados, mas é difícil não reconhecer que ele falhou aqui. O director deslumbrou-se com a quantidade de potencialidades do CGI e descurou a narrativa, a edição e a direcção dos actores. Entre os actores, é Michael Fassbender quem mais se destaca. O actor brindou-nos aqui com um dos melhores trabalhos até ao presente momento. Katherine Waterston também fez um trabalho muito bom. O resto do elenco não tem tempo ou material que lhes permita fazer alguma coisa especial.
Em 20 Apr 2023