Autor: Filipe Manuel Neto
**“Um Conto de Natal”, uma e outra vez.**
Eu já perdi a conta às versões, adaptações, releituras e reconstruções que vi de “Um Conto de Natal” de Charles Dickens. Já ouvi dizer que, com este conto, Dickens inventou o Natal. Eu não sou capaz de ir tão longe, mas reconheço que o conto mudou a forma como nós encaramos esta quadra: em vez de ser somente uma festa religiosa, passou a ser uma celebração familiar, muito mais laica e quase retornando à sua raiz pagã. Este é apenas mais um filme baseado no conto.
Por esse motivo, não vou perder o meu tempo a falar do roteiro, nós sabemos como ele acaba. E talvez por essa condicionante, senti que falta a este filme uma dose adicional de irreverência e de humor, que costuma estar mais patente sempre que os Looney Tunes são chamados. Aqui, o humor assenta essencialmente na quantidade de agressões, tabefes e deformações que o pobre Daffy Duck consegue aguentar durante quarenta e cinco minutos. Isso acaba por cansar, ao cabo de algum tempo. Também senti que Bugs Bunny está a mais no filme, ele actua quase como um “grilo falante”, uma voz da consciência, e não como uma personagem da trama.
O filme é tecnicamente muito bom e conta com a participação de várias vozes bem conhecidas de quem está familiarizado com os Tunes. Joe Alasky e Bob Bergen são especialmente bons, no entanto, eles são mestres na tarefa que têm pela frente e duvido que este filme tenha sido muito desafiador para eles. Visualmente, o filme é muito elegante. Não sei se foi feito recorrendo a animação digital, acredito que sim, mas a verdade é que parece respeitar bastante a estética e a aparência tradicional dos bonecos com que crescemos.
Em 31 Dec 2022