Autor: Pedro Quintão
Há filmes que elevam a nossa tensão e ansiedade ao limite e nos fazem querer entrar no ecrã, gritar com as personagens e fazer justiça com as nossas próprias mãos e, geralmente, é o que acontece com os thrillers de obsessão. Esta nova versão de The Hand That Rocks the Cradle até parecia prometer isso, mas rapidamente percebemos que é mais um daqueles casos em que ficou "meia bomba".
Não vi o original (anda há mais anos do que conseguem imaginar na minha watchlist), por isso vi o remake de mente aberta. Gosto desse tipo de histórias, especialmente quando há uma vilã inteligente, manipuladora e exagerada, que joga com os limites da moralidade. Mas aqui, nada disso ganha forma. O filme é surpreendentemente brando, sem picos de emoção ou momentos de verdadeiro perigo.
Maika Monroe e Mary Elizabeth Winstead são atrizes talentosas e fazem o melhor possível com o que lhes é dado, mas as personagens parecem escritas para uma novela disfarçada de thriller. Tudo é limpo demais, previsível demais. É pena, porque o elenco merecia um argumento mais ousado.
Quem realmente se destaca é Mileiah Vega, a pequena atriz que interpreta a filha do casal. Tem uma presença natural, segura, e é impressionante ver uma criança a atuar desta forma. Tenho a certeza que ouviremos o seu nome mais vezes.
A narrativa insinua, por momentos, que vai arriscar, há um breve vislumbre de uma possível obsessão amorosa da vilã pela protagonista, o que poderia dar um ângulo interessante num prisma de um triângulo amoroso bissexual, mas essa ideia é logo descartada. O filme prefere seguir por caminhos seguros e convencionais sem nunca nos surpreender, sejam na relação entre personagens, bem como na manipulação da vilã. Aliás, a “sabotagem” mais grave dela é trocar leite materno por leite processado.
Comparado com thrillers como Single White Female ou Orphan, este remake parece inofensivo. Falta-lhe aquele toque de crueldade que fazia o espectador temer o pior e, ao mesmo tempo, não conseguir desviar o olhar. Aqui, tudo termina da forma mais previsível possível, sem impacto nem qualquer surpresa.
No fim, The Hand That Rocks the Cradle é o típico filme mediano de domingo à tarde: vê-se, entretém, mas apaga-se da memória pouco depois. No mundo dos thrillers de obsessão, ser mediano é o mesmo que não ser nada.
Em 03 Nov 2025