Autor: Filipe Manuel Neto
**Transpira sensualidade por todos os poros.**
Neste filme tudo gira em torno da sensualidade. E a influência do *noir* é verdadeiramente clara. Ambientado num quente verão da Flórida, o filme conta a forma como um advogado pouco escrupuloso e mulherengo se envolve num tórrido caso com uma beldade loira nas costas do marido dela. Acontece que o marido é muito rico, graças a negócios especulativos e dúbios, e a ideia de o matarem surge quase naturalmente. A partir daí… é melhor ver o filme.
O filme não é perfeito mas funciona bem. Dirigido e escrito por Lawrence Kasdan, que é mais conhecido pelos seus trabalhos como argumentista do que pela veia de director, o filme tem uma história bastante envolvente, construída em cima de um ambiente de sensualidade latente. O calor é um elemento omnipresente, sendo que quase se transmite naturalmente do ambiente estival para o relacionamento passional das personagens. Como consequência, o filme tem diversas cenas e diálogos sexualmente claros e alguns nus femininos, o que deve ser tido em conta por quem tiver crianças em casa.
Sendo um filme muito influenciado pelo *noir*, a última coisa que devemos esperar são personagens uni-dimensionais. De facto, as personagens deste filme não são o que parecem, e isso exigiu dos actores um trabalho suplementar que foi muito bem feito. Esta foi a estreia de Kathleen Turner no cinema e ela mostrou que, além de ser linda e sexy, é uma actriz de talento. Também William Hurt era um novato neste filme, mas também ele se saiu perfeitamente bem no papel de um advogado cínico, mulherengo e pouco escrupuloso. Os dois actores criaram uma excelente química que transmitem muito bem para a tela. Mais discreto mas decente, o elenco de apoio conta com nomes de grande talento como Richard Crenna, Ted Danson e Mickey Rourke.
Tecnicamente, é um filme regular, mas que prima pela excelente cinematografia, que articula muito bem cenas nocturnas e à média luz, carregadas de sensualidade e malícia, com as cenas diurnas onde o calor é quase palpável, na sua luz intensa e cores fortes. Os cenários e figurinos são excelentes, a escolha dos automóveis das duas personagens principais também sugere muito da sua personalidade (especialmente o carro de Ned Racine, perfeito para um mulherengo inveterado). Incontornáveis, os créditos iniciais transpiram sensualidade na forma como foram concebidos e servem muito bem para nos introduzir no ambiente do filme, algo que seria muito mais difícil de outra forma, e sem a imprescindível ajuda da banda sonora impecável, da responsabilidade de John Barry.
Em 06 Aug 2020