Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme eficaz, que funciona bastante bem e não desilude o público.**
Este filme é um remake de um filme bastante mais antigo, em que a acção se ambienta durante a Guerra da Coreia e os anos seguintes, sempre no contexto da Guerra Fria e da paranoia dos EUA em redor da ameaça comunista dentro das suas próprias fronteiras. Aqui, o roteiro foi alvo de uma actualização importante, que trouxe a história para uma cronologia e contexto mais recentes, ligando-se à Primeira Guerra do Golfo e à permanência militar americana na região pérsica.
Afora esta actualização, o núcleo da trama permanece: um grupo de soldados americanos é capturado por combatentes islâmicos, para regressar algum tempo depois, apenas com algumas baixas a lamentar e liderado por um sargento que, por bravura, é transformado num herói de guerra. Coincidência ou não, esse sargento é filho de uma política muito influente, e com muitas ambições para o seu rebento. Assim, não demorará muito que ela comece a industriar o seu herói doméstico para usar o novo trunfo na arena política, visando a sua eleição para Vice-Presidente. Acontece que há alguns soldados daquela unidade que começam a ter pesadelos onde vêem os camaradas a sofrerem lavagem cerebral e aquele mesmo herói de guerra a matar companheiros de farda sob hipnose. Um desses ex-militares, Ben Marco, está determinado a descobrir a verdade e vai desafiar tudo e todos para saber o que de facto se passou.
O filme é bastante bom e vale realmente a pena... porém isso não significa que é perfeito ou livre de falhas. De facto, a actualização feita ao roteiro retirou-lhe alguma credibilidade: não me parece que os combatentes islâmicos fossem cooperar tão facilmente com uma multinacional poderosa e cheia de dinheiro e ambição, como o filme sugere. Porém, se nos decidirmos a dar uma oportunidade ao roteiro e ignorar estas questões, o filme dá-nos um trabalho interessante de entretenimento, em que o ‘suspense’ é garantido e eficaz.
Denzel Washington assegura um protagonismo inequívoco e sólido. Uma aposta segura, é um actor eficaz neste tipo de filmes, que apenas erra por parecer estar a fazer mais do que já vimos fazer antes, em filmes como *Maré Vermelha*, por exemplo. Liev Schreiber é outro actor que faz um bom trabalho aqui, numa personagem com tanto de complexo quanto de controverso: por um lado, ele é fortemente manipulado, mas, por outro, parece ansiar quebrar essa corrente que a liga a uma mãe controladora e ambiciosa, deliciosamente interpretada pela impecável Meryl Streep. O filme conta ainda com as participações honrosas de Jefferson Wright e Bruno Gana, em personagens menores que vão tendo a sua relevância para a história.
Tecnicamente, o filme não tem grandes defeitos: com um ritmo muito regular e agradável, vai-se desenrolando gradualmente e deixando o público preso ao que vejas. A cinematografia é parte essencial da beleza visual do filme e trabalha de modo impecável com a pouca luz, com os ambientes enublados e os cenários formais e impessoais dos gabinetes da alta política. Claro, os figurinos ajudam igualmente, com bons fardamentos militares e um visual impecável de Street (consigo perceber porque disseram que ela se inspirou em Hillary Clinton). Os efeitos visuais e especiais fazem o seu trabalho, mas sem grande espectacularidade.
Em 03 Jan 2022