Autor: Filipe Manuel Neto
**Épico, mas sem grande interesse pelos factos históricos.**
Este filme aborda a viagem em que Cristóvão Colombo alegadamente descobriu a América. Todos conhecemos esta viagem das nossas aulas de história: o navegador genovês que, ao serviço da Coroa de Castela, descobriu a América numa tentativa frustrada de atingir as Índias navegando para Ocidente.
Contudo, sobre Colombo e a sua viagem existem ainda uma série de controvérsias históricas, em que os autores e historiadores debatem e discordam. Para alguns, Colombo era castelhano e não genovês; para outros, era natural da Sardenha, então parte da Coroa de Aragão; uns poucos chegam mesmo a defender que ele era português. Muito mais seguras são as hipóteses de não ter sido Colombo a descobrir a América... com efeito, o italiano Américo Vespúcio reclamou para si a honra, e até baptizou o novo continente com o seu próprio nome e, vinte anos antes de Vespúcio ou Colombo pisarem terras americanas, já os navios do português João Vaz Côrte-Real haviam explorado as costas da Terra Nova e do Canadá, sem que o navegador se apercebesse que estava a pisar um continente totalmente novo.
O filme, todavia, não explora nenhuma destas hipóteses e mantém-se preso à "versão canónica" dos acontecimentos, talvez por a considerar mais segura. Mesmo assim, não foi capaz de fugir aos erros históricos mais básicos, a maioria deles por falta de conhecimento da época, da mentalidade reinante e, parece-me, por ninguém daquela produção ter lido ou consultado os diários de bordo de Colombo. Com efeito, Colombo morreu a pensar que tinha chegado à Índia e nunca se apercebeu da descoberta que fez. Da mesma forma, os Reis Católicos apenas lhe deram financiamento porque sabiam, por fonte segura (a qual incluía, certamente, a espionagem aos vizinhos portugueses), que havia muitas terras na região por onde Colombo iria navegar... tudo bem! Eu sei que isto é um filme e não um documentário. Mas há um limite entre criar uma história com base em factos históricos e passar por cima desses factos. Nestes pontos, o rigor e o respeito pela história falharam, como falharam ainda na forma como certas cenas foram pensadas. Observem os detalhes. Todas aquelas bandeiras coloridas em toda a parte por exemplo... é simplesmente inverosímil e só foi aceite pelo director porque parecia bem visualmente.
A interpretação de Depardieu não é má, mas o sotaque que ele usa estragou um pouco a performance do actor. A forma como os índios foram retratados também parece incorrecta e altamente estereotipada. Mesmo assim, o filme vale a pena porque é cinematograficamente belo, tem cenas épicas e retrata bem o esforço e a ousadia de quem se aventurou pelos mares naquela época. Uma coisa que não posso deixar de salientar: a extraordinária banda sonora de Vangelis, que se tornou um ícone da música para o cinema e é um dos valores mais elevados da produção deste filme.
Em 28 Jun 2018