Autor: Filipe Manuel Neto
**Um ícone cultural.**
Este é provavelmente um dos filmes musicais mais icónicos de todos os tempos. Não é só um filme, é uma referência para quem gosta de cinema, é um marco cultural de valor indiscutível, que tem sido copiado, parodiado, elogiado, admirado, satirizado, repisado e remastigado vezes e vezes sem conta no cinema, no teatro, na TV, na publicidade, na literatura, na rádio... É o filme que imortalizou para sempre Julie Andrews e Christopher Plummer, dois actores que fizeram grandiosas carreiras cinematográficas depois. O impacto deste filme na cultura e na arte cinematográfica é imenso e é difícil de calcular. Tornou-se um grande sucesso de bilheteira e na crítica, e ainda é regularmente exibido em TV, especialmente perto da Páscoa.
A história do filme, baseada em factos reais e numa família que existe na vida real, não podia ser mais doce e é conhecida pela maioria das pessoas, pelo que penso ser muito difícil fazer *spoil* aqui: uma jovem noviça é enviada para uma mansão de um aristocrata austríaco, antigo oficial naval da Primeira Guerra Mundial, como preceptora dos sete filhos dele. A forma alegre e compreensiva como ela se apresenta conquista os pequenos e acaba, com tempo, por conquistar também o rígido militar, para quem a disciplina era fundamental. Tudo isto acontece, porém, nos fins da década de Trinta, com a Áustria às portas da anexação por parte do Terceiro Reich. O nacionalismo exacerbado do Capitão Von Trapp acabará por entrar em conflito com a nova ordem das coisas e motivar a fuga da família.
O filme é dominado por Julie Andrews. Ela é grandiosa em todos os sentidos e faz tudo de uma forma quase perfeita. Sem falar que tem uma bela voz e canta muito bem. As crianças são igualmente boas e fazem tudo muito bem, especialmente Charmian Carr e Kym Karath. Plummer é impecável e faz um excelente par com Andrews. Os bons diálogos ajudam. No elenco secundário, eu destacaria a boa performance de Peggy Wood e Richard Haydn.
A nível técnico, destaca-se a excelente escolha dos locais de filmagem, todos ou quase todos na região de Salzburgo, na Áustria. Não importa a realidade aqui. O filme não procurou ser um documentário sobre a verdadeira família Trapp e por isso não quis ir aos locais reais onde tudo se passou, mas quis contar uma história com brilho, com doçura, baseada na vida deles. E o filme usa muito bem locais lindos e cheios de charme para adquirir uma grande beleza visual. Mas ainda mais interessantes são as canções do filme. Quase todas elas são dignas de memória e ficam no ouvido muito facilmente, mas eu destacaria especialmente a canção-título *"Sound of Music"*, bem como *"So Long, Farewell"*, *"How to Solve a Problem like Maria"*, *"Edelweiss"* e *"Sixteen going on Seventeen"*. São incríveis.
Nomeado para dez Óscares, venceu cinco estatuetas (Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Som, Melhor Edição e Melhor Banda Sonora Adaptada), mas o melhor galardão será, com toda a certeza, o estatuto de ícone cultural que adquiriu através do tempo.
Em 17 Mar 2020