Autor: Filipe Manuel Neto
**Um remake com melhorias técnicas e visuais, mas é basicamente só isso.**
Embora a sua escrita seja geralmente brilhante, nem todos os contos de Stephen King são de facto atraentes e interessantes. Como acontece com todos os autores, há obras menores no meio da sua escrita e *Pet Sematary* é provavelmente uma delas. Mesmo assim, isso não impediu que três adaptações fossem feitas para o cinema. Este filme é precisamente o terceiro da lista, e o mais recente, sendo um remake do primeiro, feito em 1989. Pessoalmente, achei o filme original mediano. Este apresenta várias melhorias, principalmente a nível técnico graças à tecnologia e aos métodos mais modernos. Mas sinceramente tenho algumas reticências quanto ao roteiro.
Sendo um remake, o roteiro é muito parecido com o filme dos anos Oitenta: de novo, voltamos a ter a história da família Creed, que se muda para a pacata cidade de Ludlow, Maine, de modo a se desligarem da rotina cansativa da grande cidade. O que não esperavam era que a estrada em frente da sua nova casa tivesse tanto tráfego de camiões, que circulam a alta velocidade e sem muito cuidado. Também não esperavam encontrar atrás da casa um cemitério de animais, que lhes é apresentado por um vizinho amigável, Jud. O cemitério é um local criado pelas crianças das imediações, para enterrarem os seus amiguinhos, muitos deles atropelados na estrada. Até aqui, nada de especial. Semanas depois, quando Louis Creed, médico e patriarca da família, não é capaz de salvar a vida de um jovem que morre nas suas mãos após um acidente, é avisado pelo espírito desse mesmo jovem que ele, assim como a sua família, estão em perigo. Na verdade, atrás da casa, existe também um antigo local sagrado onde os índios enterravam os seus mortos, mas que foi abandonado quando se tornou um local amaldiçoado. Um lugar onde não se deve ir e onde o solo pedregoso esconde uma força cruel, que Louis vai descobrir com o tempo.
O roteiro é muito semelhante ao filme de 1989, e há cenas que foram mesmo decalcadas a papel químico. Porém, além de isso não ser propriamente original também torna o filme previsível e aborrecido para quem viu o filme mais antigo. Claro, há modificações aqui e ali: pelo menos uma das personagens do filme original foi removida e o roteiro tentou dar mais ênfase à personagem Rachel Creed, desenvolvendo os seus traumas e conflitos internos para aumentar a tensão. Isso foram modificações positivas, mas, em contrapartida, o filme parece não ter tanto sentimento: no filme de 1989, senti que o filme construía um ambiente de tensão e ‘suspense’ que funcionava satisfatoriamente. Isso foi menos perceptível aqui, e é pena, porque assim o filme não é capaz de assustar ninguém.
O elenco é decente, mas não é brilhante. A jovem Jeté Laurence, para mim, foi a actriz que mais se destacou, com uma capacidade notável para actuar como uma menina inocente e simpática e, rapidamente, se transformar numa coisa totalmente diferente. Jason Clarke parece-me estar bem o suficiente, mas não foi capaz de fazer melhor do que Dale Midkiff fez nos anos Oitenta, na mesma personagem. Amy Seimetz pareceu-me inicialmente bastante insossa, mas melhorou à medida que a personagem dela se tornou mais neurótica e traumatizada. John Lithgow fez um trabalho satisfatório, mas não mais do que isso.
A nível técnico, o filme é razoavelmente mais apelativo e interessante do que o seu antecessor dos anos Oitenta. Não podia ser de outra maneira. A cinematografia é francamente boa, mas ainda no padrão dos filmes actuais, sem nada que nos surpreenda realmente. Os efeitos visuais e especiais são bons, e os cenários e figurinos não nos surpreendem muito. O visual dos animais e das pessoas que voltam à vida após morrerem foi muito bem pensado e realmente não deixa dúvidas quanto à natureza perversa daquilo em que se transformam. Os efeitos CGI foram usados de modo discreto, assim como a banda sonora, que não dá nas vistas.
Em 18 Jan 2021