Autor: Filipe Manuel Neto
**Um dos melhores de Scorsese.**
Este é considerado por muitos como o melhor filme sobre boxe feito até aos dias actuais. E de facto é um filme muito bem feito, onde o director Martin Scorsese mostra todo o seu valor enquanto cineasta. Não sei se podemos dizer que é o seu melhor filme, mas está na lista dos cinco melhores, certamente.
A trama gira em torno do polémico percurso desportivo de Jake “Bull” LaMotta, um dos pugilistas de pesos médios mais famosos de sempre. Numa altura em que o desporto era controlado por máfias criminosas e onde os combates eram, muitas vezes, um negócio de apostas encapotado e manipulado, LaMotta conseguiu singrar e ser campeão antes da sua carreira desabar sob acusações de manipulação de combates que levaram ao saneamento das competições por vários anos. O filme retracta bem o seu percurso, mas também dedica bastante tempo a mostrar-nos o homem violento, vindo de origens muito humildes e onde a violência é quotidiana, e que vive um casamento conflituoso devido ao constante ciúme. Um homem de que muito poucos conseguiriam gostar, arrisco-me a dizer, que pagou o preço do que viveu e compreendeu por fim o verdadeiro valor da violência. Aliás, sendo um filme tão violento, é óbvio que as crianças e pessoas mais sensíveis devem evitá-lo.
Tecnicamente, o filme é simplesmente impecável. A cinematografia a preto-e-branco não podia ser mais nítida, agradável, límpida e bem enquadrada, e os cortes feitos durante os trabalhos de pós-produção são cirúrgicos e feitos com uma precisão milimétrica. Com um cuidado muito especial com os cenários e os figurinos, o filme faz-nos viajar ao longo do tempo com uma suavidade de seda, desde os anos 40 até aos fins da década seguinte: sem ser um perito, posso dizer que não observei grandes problemas de recriação de épocas e os cenários, figurinos e adereços são de grande qualidade. Os efeitos e maquilhagem não deixam mácula, transformando as cenas no ringue em autênticos massacres que fazem as lutas verdadeiras parecer ensaios de ballet clássico.
Eu não tenho a certeza, mas acredito que, junto com “Taxi Driver”, foi o filme que lançou a carreira de Robert DeNiro a um nível de maturidade que lhe permitiu transformar-se na estrela incontestável que hoje é. O actor abraçou a personagem com um empenho e uma entrega que é verdadeiramente invejável e digna de aplausos. Joe Pesci não fica longe e faz um trabalho excelente no papel do irmão de LaMotta. Num papel mais reservado, mas sem dúvida sofredor, Cathy Moriarty é muito boa, e ainda temos algum espaço para ver o trabalho elegante de Frank Vincent ou Nicholas Colasanto.
Em 15 Jan 2024