Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme esquecido que merece ser repescado, mesmo com todos os seus defeitos.**
Pessoalmente, gostei bastante deste filme. É daqueles filmes que caiu no esquecimento de modo muito rápido, o que não me parece merecido: o filme é bastante melhor do que muitas produções mais caras e publicitadas, ainda que seja tenha problemas sérios, dos quais irei falar. Talvez muito poucos, além dos produtores e elenco, tenham realmente acreditado nele: não recebeu grande atenção dos estúdios e divulgadoras, foi um grande sucesso na Ásia, mas chegou a ser ridicularizado nos EUA, enquanto a Europa parece tê-lo ignorado.
O filme conta com um elenco muito bom, mas pequeno: Christopher Reeve estava ainda a colher os frutos do sucesso de “Superman”, mas isso não o impediu de se empenhar a fundo neste trabalho menor. O actor é um protagonista sólido e o seu trabalho é uma das alavancas que faz mover o filme e lhe imprime qualidade. Ao seu lado vemos a elegante Jane Seymour, ainda bastante jovem, numa interpretação carregada de dignidade e onde estabelece uma excelente química com Reeve. Menos sorte teve Christopher Plummer: o actor, cujos créditos e talento não merecem qualquer dúvida, recebeu uma personagem cliché e bastante artificial porque o vilão era necessário à trama de qualquer maneira, e tinha de ser alguém suficientemente digno do nosso desprezo.
Isto leva-nos a falar do roteiro, que tem os seus méritos e, também, muitos deméritos: a história assenta numa paixão algo mística entre Richard Collier, um dramaturgo dos dias actuais, e Elise McKenna, uma jovem e bem-sucedida actriz do passado. Logo no início do filme eles encontram-se quando ela, já idosa, lhe dá um relógio e lhe diz umas curtas e misteriosas palavras. Oito anos depois, ele fica fascinado por uma jovem, retractada em 1912 numa sala de um antigo hotel, descobrindo a sua identidade. Ele resolve então tentar auto-hipnose para regredir no tempo e encontrá-la.
O roteiro cria, assim, uma espécie de amor à primeira vista, em que o objecto da paixão é uma fotografia de alguém há muito falecido e que nunca se conheceu. Só a ideia em si já parece bizarra, e as coisas não melhoram quando introduzimos viagens no tempo e as noções de regressão e de auto-hipnose, que só a malta “new age” irá realmente valorizar de alguma forma. Teria sido preferível, talvez, uma viagem no tempo “tradicional” por meio de uma qualquer máquina, portal ou “buraco de verme”.
Tecnicamente, o filme brilha pela escolha do local de filmagem (o hotel ainda existe e pode ser visitado) e pela concepção dos cenários e dos figurinos, cheios de detalhes e bem feitos, dignos da nomeação ao Óscar em 1981. A edição é bastante regular e o filme desenrola-se sem pressa, mas também sem momentos maçantes. A cinematografia vem em alegres cores quentes e a banda sonora é dominada por duas tónicas distintas, mas de modo algum incompatíveis: a excelente Rapsódia Sobre Um Tema de Paganini Op. 43, de Rachmaninoff, e uma hipnótica e marcante melodia composta por John Barry.
Em 22 Oct 2023