Ray

Autor: Filipe Manuel Neto

**Um filme cheio de qualidade acerca de um génio musical com uma vida conturbada e controversa.** Vivi toda a minha vida a ouvir o meu pai comentar que Ray Charles foi um dos grandes músicos do século XX, e contudo nunca tive a curiosidade de ouvir música dele para o comprovar. Mas o meu pai tinha a sua razão. Ao decidir ver este filme, e de modo a conhecer melhor a figura e a música de Ray Charles, eu tive o cuidado de me procurar informar acerca dos factos da sua vida e, também, ouvir algumas gravações. É realmente um grande músico. Creio que o filme dispensa qualquer descrição detalhada acerca do roteiro, que é assegurado pelo director Taylor Hackford. Perpassando boa parte da vida do cantor, acompanhamos a sua ascensão meteórica e, também, os seus momentos de vida mais conturbados. O filme exagera um pouco na sua duração, mas isso não será um problema se o público aderir ao que vê. Mas o facto é que Ray Charles, apesar do génio musical, era uma pessoa desagradável, promiscua e viciada em drogas. O filme mostra isso mas suaviza bastante a realidade. Não tenho dúvidas de que o verdadeiro Ray, actualmente, estaria preso por posse de drogas ou a braços com vários processos por assédio sexual. Isso leva-nos a um dos problemas deste filme: gostarmos de Ray o suficiente para nos importarmos com a personagem. Por vezes, eu senti que ele merecia os problemas pelos quais passava e isso diz tudo acerca do quanto me preocupei com ele aqui. Jamie Foxx, no entanto, provou todo o seu valor enquanto actor. Goste-se ou não de Ray, ele é um excelente actor e foi capaz de uma interpretação ao mais alto nível, digna do Óscar que veio a ganhar. O filme conta ainda com actrizes como Kerry Washington e Regina King mas nenhuma delas se revelou capaz de ombrear com a performance esmagadora de Foxx. O filme conta, ainda, com excelentes valores de produção: podemos referir particularmente a cinematografia elegante e cuidadosa, o trabalho de pós-produção e edição muito bem feito e a enorme qualidade da banda sonora, onde abundam temas de jazz, gospel e, claro, canções do repertório de Ray. Sendo um filme de época, ambientado nos meados do século XX, todos os cenários e figurinos foram particularmente pensados para reflectir essa época e merecem uma nota positiva pela verosimilhança e rigor histórico.