Autor: Pedro Quintão
No início de "Hellraiser: Deader", fui imediatamente cativado pela premissa em torno de um culto misterioso. A ideia de explorar os limites entre a vida e a morte através de um grupo de seguidores fanáticos prometia uma narrativa cheia de suspense. No entanto, esta promessa rapidamente se desfez, e não tardou até perceber o motivo pelo qual esta sequela é odiada e detém uma classificação tão baixa no IMDb.
O filme não possui "pés nem cabeça". Ao terminar a sessão, fiquei com a sensação de não ter percebido nada, não devido à complexidade ou a uma sobrecarga de metáforas (isso não existe aqui), mas sim pela péssima edição e por um argumento vergonhoso. A premissa tinha potencial para ser algo significativo dentro do universo de "Hellraiser", mas a escrita é abominável e a edição é trágica. Sinto que momentos cruciais foram cortados, e todas as cenas parecem colagens forçadas, sem qualquer contextualização dos acontecimentos.
O argumento original de Neal Marshall Stevens foi concebido como um thriller sem qualquer ligação com esta franquia. Tim Day, o mesmo argumentista de "Hellraiser: Hellseeker", reescreveu o guião para adaptá-lo ao universo de "Hellraiser" e isso foi catastrófico. Tal como nas sequelas anteriores ("Hellraiser: Inferno" e "Hellraiser: Hellseeker"), "Deader" não se parece de todo com uma produção inserida no universo da saga e tudo aparenta ser forçado.
Existem momentos no filme que são absurdamente aleatórios e sem sentido. Por exemplo, o conceito do comboio repleto de gente estranha e com uma decoração duvidosa não faz sentido. Outra situação sem nexo envolve a protagonista, que, mesmo ferida e a esvair-se em sangue, caminha com naturalidade no meio da cidade. Não sei se neste caso ela estava a sonhar, se era realidade, ou outra coisa qualquer, tudo era confuso.
Outro grande problema de "Deader" é a quase total ausência do vilão Pinhead e dos demónios cenobitas. Estes últimos surgem apenas como figurantes durante breves segundos. A ausência de uma presença forte e ameaçadora que deveria ser central contribui para a sensação de que este não é um verdadeiro filme de "Hellraiser".
Adicionalmente, as limitações de orçamento são evidentes. Ao contrário dos filmes anteriores onde as restrições orçamentais eram disfarçadas, aqui tornam-se evidentes. Detalhes técnicos como a fotografia e a edição sonora demonstram um nível de amadorismo que prejudica ainda mais a experiência de visualização.
Agora, compreendo plenamente as péssimas classificações que recebeu e porque demorou 3 anos a ser lançado. O filme não só falha em capturar o espírito da saga "Hellraiser", como também se revela um desastre técnico e narrativo. No entanto, o que realmente me assusta é a ideia de que ainda consegue ser melhor do que as sequelas que me restam ver ("Hellworld", "Revelations" e "Judgment"). Se "Deader" é uma amostra do que está por vir, então as expectativas para os próximos filmes são absurdamente baixas.
Em 24 Jun 2024