Autor: Filipe Manuel Neto
**Um dos melhores filmes de 2002, com questões morais e uma boa história por trás.**
O que aconteceria se conseguíssemos prever um crime com detalhes e certezas antes de este mesmo crime acontecer realmente? Esta é a premissa base deste filme, ambientado em 2054, onde foi montado um sistema (somente em Washington D.C.) chamado "Pré-Crime", que permite às autoridades uma actuação preventiva, prendendo os criminosos em flagrante antes de perpetrarem o acto. Porém, todo o sistema depende de três pessoas com um dom para ver crimes que ainda não aconteceram, e que são mantidas virtualmente em cativeiro e adormecidas, chamadas "Pré-Cogs". Porém, dúvidas se levantam quando o chefe da divisão Pré-Crime, John Anderton, é visto pelos pré-cogs enquanto comete um futuro assassinato. Anderton irá, por isso, tentar perceber como tudo irá acontecer e garantir que não acontece.
Dirigido por Steven Spielberg, o filme está muito bem feito. Ambientado num futuro próximo, há muito do universo Orwelliano aqui: pessoas que são identificadas pela retina em qualquer lugar, como se um "grande irmão" vigiasse tudo e todos, uma autoridade forte e controladora... o filme, neste ponto, lembra muito as obras deste escritor, famoso pelo modo pessimista como encarou o futuro da Humanidade. A cena da invasão do condomínio pelas aranhas da Polícia, a fim de identificar tudo e todos, é um dos momentos que mais revela o cariz controlador das autoridades, como se os fins justificassem todos os meios, incluindo a invasão da privacidade e da casa de cada pessoa. Claro, as fragilidades do sistema Pré-Crime são expostas pelo filme e isso levanta questões morais e éticas complexas. Há alguma justiça poética aqui, na medida em que é alguém do sistema que tenta por em causa o sistema para se salvar a si mesmo. Porém, a partir de determinado momento do filme, tudo se torna cada vez mais claro e previsível, caminhando para um final que pode, de facto, deixar-nos a desejar algo mais.
Tom Cruise é um actor de que não gosto particularmente, mas devo reconhecer que, com este filme, ele conseguiu uma das melhores interpretações da sua carreira até agora. John Anderton é uma boa personagem, e Cruise conseguiu destruir, gradualmente, a confiança da personagem de maneira convincente. A forma como trabalhou e deu vida à personagem principal é um dos pilares que sustenta todo o filme, apesar de colaborar bem com outros bons actores, como Max von Sydow e Colin Farrell. Eles nunca igualam Cruise, limitando-se a dar-lhe o apoio que precisa.
A nível técnico, e sendo um filme sci-fi futurista, devemos destacar pela positiva os efeitos visuais, especiais e CGI que Spielberg (que já tem escola neste ponto) garantiu para o filme. Foi um trabalho bem feito. Apenas aqueles carros e estradas aéreas não me convenceram, parecendo algo saído do universo dos "Jetsons". Tirando isso, a aposta em hologramas realistas, na computação avançada, no recurso ao 3D para fins recreativos, na robótica etc. tudo parece estar em linha com o modo como a Humanidade está a desenvolver-se.
É sem dúvida um bom filme, um dos melhores daquele longínquo ano de 2002, e que ainda tem espaço nas prateleiras e nos canais de cinema dos nossos dias.
Em 18 Dec 2019