Autor: Filipe Manuel Neto
**Aborda um assunto difícil com leveza, sarcasmo de uma forma mentalmente provocadora.**
Este filme, alegadamente baseado (muito ligeiramente) em factos reais, conta a história de um negociante de armas russo-americano e traz à luz a imoralidade do tráfico de armas internacional. Um filme sarcástico, que seria até deprimente se não fosse absolutamente irónico.
A ironia é a chave para perceber as provocações de um filme que toma como certa a inevitabilidade da guerra e da violência: assim como comer, guerrear e matar é algo que é colocado como uma necessidade humana, que o Homem sempre sentirá. Esta provocação mental é o ponto de partida de uma viagem ao mundo do tráfico de armas através dos olhos de um traficante que, com certeza, matou mais pessoas que uma bomba nuclear e parece viver num mundo paralelo ao nosso. Para ele, a morte de uma criança-soldado é algo triste, mas faz parte da vida e só é um problema real se tiver acontecido com munições compradas a outro vendedor de armas.
Aqui não há heróis. Não há personagens agradáveis de quem possamos gostar. A maioria das personagens foram mal construídas e pouco desenvolvidas. A excepção é o protagonista, sarcástico, amoral e cuja mentalidade nos faz pensar. É interpretado por Nicholas Cage, talvez uma das suas melhores performances até hoje, não obstante o filme não ter a popularidade e visibilidade de outras produções em que o actor participou. Ele não é um dos actores que eu mais gosto e fiquei surpreendido por ter feito um trabalho de tanta qualidade aqui. Ele soube ser desprezível. O resto do elenco recebeu pouco material de boa qualidade para trabalhar, procurando apenas fazer o que tinha de fazer sem erros... uma tarefa conseguida, embora pouco glorificante. O maior problema, neste ponto, é a participação de Jared Leto, que nunca parece enquadrar-se no filme e na personagem que faz. Foi um erro de casting.
Em 25 Jul 2018