Autor: Filipe Manuel Neto
**Sem uma boa trama, e sem uma personagem principal capaz de nos fazer importar com ela.**
Há personagens de revistas de banda desenhada que parece quase que não são capazes de causar simpatia. Hulk é claramente uma delas. Apesar de todo o melodrama em redor da história de vida da personagem, pelo menos neste filme (não sou um fã de banda desenhada a ponto de saber se a história da personagem é a que o filme nos conta), esta personagem é bastante gizada e pouco trabalhada, incapaz de mexer com o meu lado emocional.
Basicamente, Hulk é o alter-ego monstruoso de Bruce Banner, filho de um cientista militar que caiu no erro de fazer experiências genéticas em si mesmo. É uma adaptação da velha história de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, ou pelo menos tem imensas semelhanças. Ang Lee, que assegura a direcção, fez um trabalho decente mas sem brilho e nunca foi capaz de transformar Bruce/Hulk numa personagem com quem nos possamos importar. A história pareceu-me pouco credível, pouco interessante, muito focada nas cenas de acção (como se toda a trama fosse só um pretexto para ver um brutamontes verde aos urros enquanto esmaga tudo o que encontra) e com um final bastante questionável.
Quanto ao elenco, creio que Eric Bana fez o que podia com o material que lhe foi dado mas não tinha como brilhar. Sam Elliott é satisfatório, mas incapaz de ir além do cliché do general frio que quer usar o super herói atormentado como arma de guerra. Jennifer Connelly talvez esteja ainda pior, na medida em que é bastante fria nos seus sentimentos românticos e a química com Bana, pura e simplesmente, não acontece. Nick Nolte faz uma participação boa, mas numa personagem muito acessória para a trama e absolutamente detestável.
Tecnicamente, o filme parece-me bem feito. Tem um orçamento considerável e o dinheiro foi claramente gasto em cenas de acção cuidadosamente bem feitas, carregadas de efeitos especiais e CGI de boa qualidade. Feitas para impressionar, são o prato forte do filme. A questão é que carecem de uma boa e firme história para lhes dar o suporte necessário. A fotografia foi muito bem feita, com um bom trabalho de filmagem, edição e pós-produção. A banda-sonora, assinada por Danny Elfman, faz lindamente o seu trabalho.
Como acontece a muitos outros filmes baseados em livros de banda-desenhada, este filme foi muito bem feito e bem pensado nos detalhes técnicos mas não tem uma história boa para contar. Sem isso, não há filme que resista.
Em 13 Apr 2020