Autor: Filipe Manuel Neto
**Algo abstracto e desconexo, não vale a pena ver mais do que uma vez na vida.**
Este é um daqueles filmes que põem uma barreira tão grande entre o público e a tela que parece que não estamos a ser sequer tidos em consideração pelos produtores. Apesar das tentativas, não há uma única personagem simpática ou palatável, o roteiro não ajuda e a sensação que paira no ar é de uma falta de conexão e de solidez do produto final que só poderá ser explicável se pensarmos na forma como o director quis ser abstracto à força.
Tudo se passa em redor de uma casa de striptease chique, o Clube Exótica, em Toronto. Há uma dançarina que encanta não apenas um cliente que vai todos os dias vê-la, mas também o apresentador, que é seu ex-namorado e uma das pessoas mais possessivas e infelizes que podemos imaginar. Junte-se a isto um traficante de animais com problemas em assumir a homossexualidade que é forçado a participar num plano de vingança e temos um filme que provavelmente não vamos querer ver mais que uma vez.
Atom Egoyan assegura-nos uma direcção firme, mas um roteiro bastante menos seguro e sólido. Gosto da forma como aborda a perda, o trauma, a sensação de negação do real e o luto. Porém, acreditar que uma mulher montaria uma casa de striptease elegante e a sua filha iria ter brios para assumir o “negócio de família” é desconhecer totalmente as realidades destas casas comerciais, onde a legalidade e a ilegalidade por vezes andam de mãos dadas. Uma verdadeira casa de luxo nunca faria as sessões privadas nas mesas da sala principal e a um valor baixo, mas em salas aparte por um valor bem mais alto e as verdadeiras ‘strippers’ não costumam dançar a mesma música e usar o mesmo número de palco constantemente. Também há imensos buracos que o roteiro nunca explica e que ficam em suspenso. Por exemplo, por que razão Christina decidiu tornar-se ‘stripper’ se é claro, pelas palavras das personagens, que aquele não é o lugar onde ela merecia estar.
Bruce Greenwood é o actor que merece maior louvor pelo seu trabalho aqui. É o único a tentar quebrar o gelo e vir ao encontro do público de alguma maneira, e isso merece um aplauso da nossa parte. Elias Koteas não é tão bom, mas também dá um trabalho que se pode considerar positivo. Mia Kirshner, ao invés, parece estar desinteressada e apenas a tentar ganhar algum dinheiro sem muito esforço. Don McKellar não é melhor e Arsinée Khanjian tem uma personagem absolutamente mal concebida e mal feita.
A nível técnico, é um filme desinteressante, para dizer o mínimo. Está dentro dos que se espera encontrar num filme com aspirações a ser comercial, mas que parece gostar mais dos festivais e ciclos de cinema do que do público de massas. O destaque positivo é a concepção do cenário da casa de striptease, algo tropical eu diria, e a banda sonora, em que se inclui uma boa canção de Leonard Cohen.
Em 19 Nov 2023