Autor: Filipe Manuel Neto
**O que será que os Ingleses pensam deste filme?**
Roland Emmerich viu "Braveheart" e o que fez? Pensou que os EUA deviam ter o seu próprio Braveheart e telefonou a Gibson para o ajudar, dando-lhe o papel. Há uma série enorme de semelhanças entre ambos sendo que, tal como "Braveheart", este filme é mau no que diz respeito ao rigor histórico, por mais atraente e cinematográfico que seja (e é-o, sem dúvida).
Os ingleses são retratados de uma forma que é quase insultuosa. Certo, há atrocidades em qualquer guerra e era preciso um vilão digno do nosso ódio, mas tudo tem limites, e os britânicos ainda tinham, neste momento da história, uma mentalidade muito virada para a guerra de cavalheiros, pelo menos no que diz respeito a oficiais. Aceito o argumento de que é ficção, não um documentário, mas mesmo assim não respeita o contexto histórico e penso que muitos ingleses não aceitaram bem o modo como o filme retrata o seu exército. Apesar disso, há vários detalhes historicamente correctos, como os cenários coloniais, bem construídos e elegantes, e os figurinos, em particular os uniformes. A maneira como os soldados lutavam, formal em essência, também foi historicamente bem reconstituída no filme.
Acerca dos actores, o destaque vai nitidamente para o bom desempenho de Mel Gibson. Livre do fardo da direcção e do roteiro, preocupou-se com a actuação e fez um bom trabalho. Manteve-se perto do que fez em "Braveheart", mas sem o horrível sotaque escocês falso e parecendo muito mais à-vontade com a personagem, um homem que vai em busca de vingança no meio do conflito em que ele se envolve. Heath Ledger, ainda jovem, também dá sérios sinais de talento. Joely Richardson e Tom Wilkinson fizeram o que se esperava deles, apesar das personagens de ambos não exigirem muito deles. Jason Isaacs deu vida ao vilão e, embora a personagem não seja credível, pode ser tão sádica e assustadora que não só se torna digna do nosso ódio como encarna bem o lado cruel da guerra.
Como peça de entretenimento, o filme funciona. A maneira épica em que foi pensado é excelente até mesmo na TV. A banda sonora extraordinária de John Williams fica no ouvido e a cinematografia, colorida e viva, parece boa na tela.
Em 28 Jun 2018