Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme brilhante acerca de uma mente brilhante.**
Este filme é baseado na vida de Alan Turing, o pai do computador moderno. É uma personagem verdadeiramente notável, responsável pela era de tecnologia em que vivemos e uma das pessoas mais geniais do século XX. Este filme centra-se principalmente no esforço de Turing, durante a Segunda Guerra Mundial, para decifrar os códigos secretos das comunicações militares alemãs, até então indecifráveis. O filme, todavia, aborda também a questão em torno da homossexualidade de Turing.
Tratando-se de um filme de época baseado num livro, eu já estava à espera de alguns atropelos à história verídica, e foi sem surpresa que li algumas críticas onde isso era mencionado. Mas não sou a pessoa mais indicada para avaliar isso porque não conheço a figura de Alan Turing em detalhe nem me dediquei a ler o referido livro para ver se comunga das mesmas falhas. Mas sim, admito tais possibilidades e, dado que é um filme de época com base numa história verdadeira, isso é algo que eu penalizo, pessoalmente. Sou daquelas pessoas que entende que, nestes casos, a liberdade de criação deve ser bem demarcada. Outra coisa que eu gostaria de perceber melhor é se o livro, tal como o filme, dá como certo o suicídio de Turing, posto que na época houve sérias dúvidas acerca disso. Afora estas reservas, não tive grandes problemas com o roteiro que, sem detalhar muito, varre a vida do cientista até muito perto da morte, valendo-se do flashback para visitar e apresentar situações do passado.
Morten Tyldum assegura uma direcção eficaz e competente. É um director que eu ainda não conhecia e que tem circulado mais no meio televisivo, mas fez um bom trabalho. Benedict Cumberbatch, que eu só me lembrava de ver fazer papéis secundários e o vilão de "Star Trek: Além da Escuridão", teve a oportunidade de mostrar valor e não desiludiu. Foi demolidor no papel principal, personagem complexa e psicologicamente desafiante. O trabalho rendeu bons frutos e, apesar de eu ainda não ter visto muitos dos filmes onde ele entrou depois deste, ver a filmografia dele aqui no web-site é o bastante para vermos o quanto a carreira dele beneficiou e cresceu. Ao seu lado está Keira Knightley, uma veterana dos filmes de época, com carreira já sólida. Rory Kinnear, Matthew Goode e Charles Dance também fizeram um bom trabalho.
Tecnicamente, há pouco a dizer acerca deste filme. O trabalho de filmagem e fotografia foi bem feito mas sobressai particularmente o esforço primoroso de edição e pós-produção, com todos aqueles flashbacks. A banda sonora, de Alexandre Desplat, está de parabéns e fica um pouco no ouvido depois de o filme terminar. Os cenários e os figurinos são excelentes e parecem-me ser suficientemente fiéis ao período retratado.
Vencedor de um Óscar (Melhor Argumento Adaptado) foi nomeado para Melhor Filme, Melhor Actor, Melhor Actriz, Melhor Director, Melhor Edição, Melhor Banda Sonora e Melhor Design de Produção. Não sendo um filme perfeito, creio que andou relativamente perto disso.
Em 17 Apr 2020