Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma continuação positiva, muito embora não tenha satisfeito as minhas expectativas.**
Desde sempre, a franquia 007 tem um lugar especial na minha cinemateca pessoal. Eu tenho todos os filmes e realmente gosto de vê-los. Embora a maioria seja boa, é claro, nem todos foram bons. Alguns foram decepções, por mais que os fãs incondicionais achem difícil admiti-lo. Para mim, há uma diferença entre ser fã e ser cego. Eu adorei "Skyfall", gostei das homenagens feitas lá a vários outros filmes (foi lançado na celebração dos cinquenta anos da franquia, fazia sentido a homenagem). Outro ponto que adorei em "Skyfall" foi a forma como fez ligações a filmes anteriores, criando um fio condutor através deles desde "Casino Royale", e fiquei animado para ver como isso ia continuar. Ao contrário de muitas pessoas, nunca coloquei objecções à maneira como Daniel Craig interpreta Bond nem fico com saudades dos actores anteriores. Todos os actores que usaram o smooking de 007 tiveram o seu tempo e a sua maneira pessoal de ser Bond, e a diversidade ajuda a franquia a ser mais rica e atraente. Então, como você pode imaginar, estava muito empolgado com "Spectre". Claro, o título mostrou-me logo uma coisa: Bloofeld ia voltar de uma forma ou de outra.
Como sempre, Craig estava bem no personagem principal. Carismático e sedutor sem perder a aparência rude e perigosa, nunca nos deixa esquecer que é um homem numa missão. Christoph Waltz foi convincente e maquiavélico, e enfrentou o desafio de dar vida a um dos vilões mais emblemáticos do universo Bond. Ralph Fiennes, Ben Whishaw, Andrew Scott e Naomie Harris foram impecáveis nos papéis secundários. Por outro lado, Lea Seydoux está longe de ser uma bondgirl memorável, com uma performance sem inspiração, enquanto a veterana Monica Bellucci, apesar da idade, é muito mais sexy e podia ter sido mais interessante se tivesse uma personagem mais activa e importante. Sam Mendes é um excelente director, com boas ideias, boas habilidades e o que parece ser um plano de longo prazo para futuros filmes. No entanto, a duração excessiva do filme, com um ritmo por vezes muito lento e um final que é, no mínimo, pobre, mostrou-me que ele tem também alguma dificuldade no trabalho de pós-produção. Por exemplo, a sequência de pré-abertura no México era mais digna do final do filme do que o final que eu vi. Tentativas de fazer humor ou mesmo algum romance também foram um fracasso retumbante e o suspense, que deve crescer ao longo do filme, parece vir em ondas. No que diz respeito à acção, há de tudo para todos os gostos, desde perseguições de carro ou comboio a lutas mesmo inacreditáveis. Tudo muito bem feito, mas às vezes muito exagerado e inacreditável. A banda sonora não é digna de nota e a canção de abertura, de Sam Smith, é entediante, efeminada e longe da qualidade da antecessora imediata ("Skyfall", de Adele), para dar um exemplo.
Assim, "Spectre" provou ser uma boa adição à franquia e uma continuação positiva, embora não tão boa quanto o filme que a precedeu. Vamos ver o que virá a seguir.
Em 06 Sep 2018