Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma máquina de fazer dinheiro.**
Como eu já tive oportunidade de dizer anteriormente, em outros textos, o cinema de animação tem sido pródigo no surgimento de filmes que, vindo no seguimento de êxitos de bilheteira, dão protagonismo a personagens secundárias que, de algum modo, ganharam a simpatia do público. *Mínimos* não faz mais do que repetir essa receita novamente, sabendo-se de antemão que iria ser um êxito de bilheteira e de merchandising. Para o estúdio, este filme valeu a pena apenas pelo garantido encaixe de dinheiro, e o filme revela-nos isso pelo pouco investimento feito numa trama de qualidade.
Realmente, o filme não tem uma história específica: limitámo-nos a ver um esboço da trajectória de vida dos Mínimos, extremamente ligeiro e inverosímil, antes de seguirmos três deles numa viagem até aos EUA, em busca de um novo patrão, um vilão a quem servir e claro, atrapalhar. O filme funciona, assim, como uma prequela ao primeiro filme da franquia *Gru*, uma prequela dispensável, feita com o dinheiro em mente, baseada em personagens impensáveis para protagonistas: basta dizer que os Mínimos me fazem pensar em salgadinhos de queijo. Não é o tipo de personagem em que eu fosse apostar para protagonizar um filme.
Em resultado de tudo isto, o filme é excessivamente longo para a trama que traz, é previsível e está cheio de problemas de lógica e rigor histórico (é ambientada nos anos 70). Estou disposto a perdoar as anacronias, mas os problemas de lógica e o ritmo desigual do filme são mais difíceis de colocar de lado. Sendo uma comédia, achei o filme excessivamente morno. Não há realmente quase nada que faça rir, principalmente se considerarmos que as tolices dos Mínimos, que eram engraçadas em *Gru* perdem a sua força aqui. A abertura funciona razoavelmente bem, mas é sempre a piorar a partir daí. Falta, acima de tudo, criatividade e boas ideias, uma dose de empenho na criação de um filme que, simplesmente, se apoia totalmente na fofura das personagens. Estava, desde o início, fadado a ser um desastre.
A nível técnico, o filme também não se sai tão bem quanto seria desejável. O aspecto mais salvífico acaba por ser o estilo visual, colorido, vívido e vibrante, agradável ao olhar. Porém, isso é algo que quase se torna obrigatório e exigível num filme que foi composto com os recursos mais modernos da animação gráfica computorizada. O trabalho razoavelmente satisfatório dos actores de voz também merece destaque. Com a sua voz bem modulada e dicção impecável, Geoffrey Rush saiu-se muito bem como narrador, Pierre Coffin foi muito competente ao dar voz aos Mínimos (se bem que as vozes nunca parecem muito diferentes entre si) e John Hamm parece realmente divertir-se com a sua personagem. Jennifer Saunders estava OK, mas Sandra Bullock não me convenceu. O filme conta ainda com vários outros actores de voz muito bons, como Steve Carell, Michael Keaton ou Steve Coogan, mas não dá tempo ou atenção suficiente às suas personagens. Outro aspecto técnico positivo do filme é a banda sonora, que aproveita, com sabedoria e sem exageros, diversas canções rock marcantes.
Em 11 Aug 2021