Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme icónico, culturalmente significativo e que ajudou a eternizar James Dean.**
Este é um daqueles filmes clássicos quando o tema é a rebeldia dos adolescentes e choque geracional. É indubitavelmente bom, com uma boa história e bons actores – é o filme que marcou a curta carreira de James Dean – e continua a marcar presença regular em ciclos de clássicos e canais de TV da especialidade.
O filme explora bastante bem a relação difícil entre pais e filhos no seio das famílias mais abastadas, e a forma como essa tensão familiar tem influência decisiva no comportamento delinquente destes últimos. Vivendo em lares onde verdadeiramente não há amor, antes uma rotina bem organizada, e onde o cuidado parental se limita a bens materiais e ao acto de dar coisas, estes jovens acumulam uma revolta que sentem necessidade de exteriorizar, por via de travessuras e maldades que os pais optam por ignorar ou considerar que são as consequências de influências nefastas de terceiros. O facto de serem filhos de pais ricos só torna as suas diabruras mais elaboradas: é o caso da corrida com automóveis roubados. Quantos adolescentes revoltados com papás ricos não continuam a fazer coisas parecidas?
Habilmente dirigido por Nicholas Ray, o filme teve um alto orçamento que lhe permitiu valores de produção de qualidade. A cinematografia é excelente, os cenários e figurinos não podiam ser melhores (gostei especialmente da casa dos pais de Dean e da mansão abandonada aonde parte das cenas finais acontece) e os automóveis usados são lindos. O cabelo e o figurino de James Dean foram determinantes na moda jovem daquela época e a banda sonora acompanha tudo com distinção e discrição.
Porém, o que marca decisivamente este filme é a excelente qualidade do elenco e do seu trabalho, muito particularmente o desempenho de excelência alcançado por James Dean. Ele é absolutamente credível no papel que lhe foi dado, apesar de ser um pouco mais velho do que a sua personagem. A cena de abertura é digna de antologia, mas também aquela luta com navalhas que protagoniza junto ao Observatório Griffith. Natalie Wood também não fica atrás: ela tinha então mais ou menos a idade certa e o talento necessário, além de ser muito bonita e carismática. Sal Mineo faz um papel fortemente dramático e a sua participação neste filme é um dos pontos altos da sua carreira. Por fim, uma nota de louvor para Jim Backus e para Marietta Canty, que deram bons contributos para o filme em papéis um pouco menos valorizados.
Uma nota curiosa que acabei de verificar: os três actores principais deste filme têm em comum o facto de terem morrido antes dos quarenta e cinco anos, e cada um ter tido uma morte misteriosa e violenta. Todos sabem que James Dean viu a sua vida ceifada em consequência de um infeliz acidente de carro, poucos meses após este filme ter sido feito. Porém, em 1976, seguiu-se Sal Mineo, que foi assassinado com uma facada durante um assalto à sua residência. Decorridos poucos anos, em 1981, foi a vez de Natalie Wood, que morreu afogada e em circunstâncias mais do que estranhas, durante um passeio de iate na costa californiana.
Em 14 Mar 2024