Autor: Jug
A cidade é só um espaço aqui, mas gosto como o Ferrara prefere defini-la através daqueles que a populam. Primariamente os homens, tornando-os em abutres e opressores, cujo tem todo um fetichismo na figura da mulher - que não é muito diferente do que conhecemos na nossa sociedade. Em Sedução e Vingança, o exemplo mais chamativo e extrapolado que me vem à mente nessa ideia é o estuprador com uma máscara maquiada que surpreende Thana em um beco. E ela, mais pra frente utiliza-se disso pra alcançar uma exatidão no seu modos extremista.
Parte do seu trauma a única fonte de resposta a sobrevivência naquele meio, ao lembrarmos também que ela não pode falar. Um agravante a mais. Então Ferrara emprega um conceito psicológico e mental de uma situação horrorosa, num sentido mais hiperbólico e "justificando" sua estilização; o leitimotiv do saxofone um pouco descompassado que está sobre a figura da personagem; a maneira como a própria se revela a cidade à noite, aparentando ser uma justiceira.
E por outro lado resulta no meandro, por mais perene de filmes de assassino em que o público têm conhecimento da identidade do sujeito, sobre a intimidade, que origina a reação de defesa - a morte - e a consequência total dessa. Sentimos que cada ação é definidora ali com ela, naquele ambiente, calada, colocando o corpo em sacos plásticos e livrando-se deles ou apenas olhando pro espelho e imaginando com o revólver.
Em 01 Oct 2020